Brasília – O governo brasileiro planeja anunciar no fim de agosto a retomada formal das negociações de livre-comércio entre Mercosul e Canadá, paralisadas desde 2021. O relançamento deve ocorrer durante a visita do ministro canadense de Comércio Internacional, Maninder Sidhu, a Brasília.
Como responsável pela coordenação das conversas dentro do bloco, o Brasil ainda consulta Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia para confirmar a data do anúncio. A intenção é realizar uma nova rodada de reuniões no segundo semestre, quando o país assume a presidência rotativa do Mercosul.
A escalada tarifária promovida pelo governo de Donald Trump nos Estados Unidos levou Brasília e Ottawa a buscarem novos mercados e reduzir dependências. O Canadá destina mais de 70% de suas exportações ao vizinho norte-americano.
Segundo a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Tatiana Prazeres, a passagem de Sidhu poderá avançar temas como segurança alimentar, acesso a mercados e investimentos sustentáveis. Já Gustavo Ribeiro, gerente de inteligência de mercado da ApexBrasil, destaca que os padrões de consumo canadenses se assemelham aos norte-americanos e enxerga sinergia na agenda de energia limpa.
O Canadá é, ainda, importante fornecedor de fertilizantes ao Brasil – relação vista como estratégica diante de eventuais sanções norte-americanas a compradores de insumos russos.
Estudos do governo apontam que um acordo Mercosul-Canadá poderia acrescentar R$ 4,14 bilhões ao PIB brasileiro e atrair R$ 1,39 bilhão em investimentos até 2041, além de elevar importações em R$ 3,77 bilhões e exportações em R$ 3,89 bilhões.
Pela complexidade das pautas, integrantes do Executivo estimam prazo superior a um ano para concluir as tratativas.
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Em meio às mesmas tensões comerciais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende aprofundar a integração com o México, alvo de tarifa de 30% aplicada pelos EUA. O vice-presidente Geraldo Alckmin desembarca na Cidade do México em 24 de agosto com uma comitiva empresarial para discutir sustentabilidade, inovação, investimentos e integração regional.
Outra prioridade é finalizar, ainda em 2025, o tratado de livre-comércio entre Mercosul e Emirados Árabes Unidos, iniciado formalmente em julho de 2024. A Secretaria de Comércio Exterior vê oportunidades para vender alimentos, máquinas, equipamentos e serviços, além de atrair capital em infraestrutura, energia e inovação.
Paralelamente, o governo projeta assinar em meados de setembro o acordo Mercosul-Efta, concluído em julho, garantindo acesso preferencial a Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. A estimativa oficial indica impacto positivo de R$ 2,69 bilhões no PIB e incremento de R$ 660 milhões em investimentos até 2044, com expansão de R$ 2,57 bilhões nas importações e R$ 3,34 bilhões nas exportações.
A ofensiva tarifária dos Estados Unidos também reacendeu as expectativas sobre o acordo Mercosul-União Europeia. Tatiana Prazeres avalia que o novo contexto geopolítico aumenta a relevância de parcerias baseadas em regras claras. Já Thierry Besse, presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, considera os acontecimentos recentes um catalisador para a rápida ratificação do tratado.
O governo brasileiro trabalha para concluir o entendimento com o bloco europeu até o fim do ano.