Balneário Camboriú (SC) — Com o metro quadrado mais caro do país, a cidade catarinense transformou o trabalho do corretor de imóveis em uma experiência de alto padrão que inclui traslado de jatinho, passeios de helicóptero, uso de lanchas e “test drive” de apartamentos por até três dias.
Na imobiliária Felicità, o potencial comprador recebe carro de luxo, jantares e lancha durante a estadia. De acordo com o sócio e gestor Bryann Germano, a projeção da empresa é movimentar R$ 1 bilhão em valor geral de vendas em 2025.
A FG Empreendimentos, responsável pela construção da Senna Tower — projetada para ser o edifício residencial mais alto do mundo — disponibiliza avião executivo, helicóptero, hospedagem em apartamento decorado e almoço gourmet. “O objetivo é fazer o cliente sentir que já pertence ao local”, afirma o diretor Alex Brito.
O crescimento do mercado está ancorado em investimentos privados e obras públicas, como um parque linear de 7 km na orla central, revitalização da Avenida Brasil com fiação subterrânea, novos acessos à BR-101 e melhorias de drenagem. Estão no radar um shopping voltado ao público de alta renda, restaurantes com estrela Michelin, um museu dedicado a Ayrton Senna na Senna Tower e hotéis de bandeiras como Emiliano e Colíneo de France.
Com milhões de visualizações no TikTok, o corretor Bruno Cassola divulga bastidores de obras e imóveis de até R$ 20 milhões. Comissões de seis dígitos são comuns. Segundo ele, qualquer profissional credenciado no Creci de Santa Catarina ou em parceria local pode atuar na cidade, mas “informação de mercado é crucial”.
Para Diogo Martins, CEO do Instituto Brasileiro de Educação Profissional (IBREP), vender em Balneário Camboriú exige conhecimento de arquitetura, arte e tendências, além de rede ativa com construtoras.
Imagem: redir.folha.com.br
Empresários de alta renda ligados ao agronegócio e à indústria formam o público predominante, segundo Thiago Cabral, CEO da ABC & Embralot. O grupo faturou mais de R$ 600 milhões em 2024, alta de 150% sobre o ano anterior. Esses clientes buscam design autoral, sustentabilidade e exclusividade.
Para encontrá-los, corretores frequentam eventos de automobilismo, leilões de gado e feiras do agronegócio. Com a Selic elevada, parcelamentos diretos, entrada reduzida e crédito facilitado tornaram-se instrumentos para acelerar as negociações.
Ao comprar um apartamento de cerca de R$ 30 milhões na Senna Tower, um cliente recebeu uma escultura em madeira inspirada na sapatilha usada por Ayrton Senna, folheada a ouro 23 quilates e limitada a 15 unidades.
Mesmo com juros altos e processo de decisão mais longo, o discurso dos corretores permanece alinhado: imóveis continuam sendo vistos como porto seguro de investimento.