São Paulo – Uma série de decisões tomadas recentemente por governos e empresas coloca em dúvida a velocidade da transição para uma economia de baixo carbono, ao mesmo tempo em que dados mostram avanço acelerado da energia solar.
No fim de julho, o administrador da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) anunciou a intenção de derrubar a “constatação de perigo” (“endangerment finding”) de 2009. A regra, fundamentada por decisão da Suprema Corte, sustenta a base legal para limitar emissões de gases de efeito estufa (GEE) no país.
Com a mudança, deixam de valer regulamentos que controlam a emissão de GEE em veículos leves, caminhões, usinas de energia e atividades de petróleo e gás. Parlamentares conservadores e representantes do setor de óleo e gás comemoraram a medida; artigo do Wall Street Journal classificou o anúncio como um “Dia da Libertação” da regulação climática.
Fora dos EUA, o jornal britânico The Guardian noticiou que a República Democrática do Congo colocou em licitação 124 milhões de hectares para exploração petrolífera. A área corresponde a mais da metade do país e abriga 64% de floresta tropical primária, incluindo habitats de gorilas e bonobos.
No Brasil, a BP informou ter realizado sua maior descoberta de petróleo em 25 anos, fato que reforça a recente redução de ênfase da companhia em projetos de energia renovável.
A revista The Economist, historicamente favorável a políticas de emissões líquidas zero, destacou o aumento das resistências políticas e sugeriu que governos transformem a meta em “diretriz”, citando a frase de Otto von Bismarck de que “a política é a arte do possível”.
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Em contraste, reportagem publicada pela revista The New Yorker em julho apontou que a energia solar consolidou-se nos últimos dois anos como a opção mais econômica para geração elétrica. Segundo as projeções citadas:
O texto também apresentou estimativas de queda contínua de custos, disponibilidade de áreas e materiais para expansão em larga escala, além de ganhos geopolíticos pela distribuição mais uniforme da fonte solar. Em discurso recente, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “o sol desponta sobre uma era de energia limpa”.
Especialistas ainda questionam se a adoção de renováveis será rápida o bastante para limitar o aquecimento global a 2 °C acima dos níveis pré-Revolução Industrial, meta estabelecida pelo Acordo de Paris em 2015.