A correlação entre a taxa básica dos Estados Unidos e o preço do Bitcoin voltou ao centro do debate enquanto investidores aguardam a próxima reunião do Federal Reserve, em setembro. Segundo a ferramenta Fed Watch, 85% dos agentes esperam que o juro hoje situado entre 5,25% e 5,50% seja reduzido para a faixa de 5,00% a 5,25% ao ano, movimento que tende a estimular ativos de risco, incluindo a maior criptomoeda do mercado.
Desde a criação do Bitcoin, em 2009, a política monetária norte-americana tem influenciado seus ciclos de alta e baixa:
2009-2016 – Com a taxa próxima de 0% após a crise do subprime, a liquidez abundante ajudou a moeda digital a saltar de frações de centavo para cerca de US$ 1.000.
2016-2019 – Mesmo com elevação gradual do juro até 2,5%, o BTC manteve valorização, ainda que mais volátil.
2020-2021 – A pandemia levou o Fed a retornar os juros à zona de 0%. Nesse ambiente, a cotação saiu de perto de US$ 5.000 para além de US$ 60.000.
Mar/2022-jul/2023 – O ciclo de aperto até 5,5% diminuiu o apetite por risco e puxou o Bitcoin para a casa de US$ 20.000. No mesmo período, o colapso da exchange FTX agravou a queda.
Para Felipe Mendes, CEO da Altside, a taxa de juros “cria a lógica do custo de oportunidade”. Quando o retorno da renda fixa em dólar sobe, parte dos investidores migra para esses papéis; quando cai, cresce a busca por alternativas de maior risco, como o Bitcoin.
Guilherme Prado, country manager da Bitget, complementa que o comportamento recente reforça a característica do BTC como ativo de risco. A correlação moderada de 0,48 com o S&P 500 ilustra essa dinâmica, afirmou.
A probabilidade de corte indicada pelo Fed Watch caiu de 97,8% no início de agosto para 85% após a divulgação do Índice de Preços ao Produtor (PPI), mas ainda sinaliza flexibilização. Caso confirmada, a medida deve “diminuir o custo de oportunidade, aumentar a liquidez e favorecer a busca por ativos de maior risco”, avaliou Prado. Segundo ele, cenário fiscal claro e menor tensão geopolítica podem impulsionar o Bitcoin acima de US$ 124.000.
Na terça-feira, 19, o ativo era negociado a US$ 113.613, de acordo com a plataforma CoinMarketCap.
Especialistas apontam ainda diversos componentes macro e estruturais que podem ampliar ou limitar o efeito dos juros sobre o Bitcoin:
Imagem: infomoney.com.br
Inflação: números abaixo do esperado reforçam apostas de corte e fortalecem a criptomoeda como alternativa ao dólar.
Política fiscal dos EUA: medidas expansionistas tendem a valorizar ativos de risco, especialmente diante de um dólar mais fraco.
Crescimento e emprego: indicadores fracos favorecem política monetária frouxa, o que, por sua vez, beneficia o mercado cripto.
Investidores institucionais: entrada de capital via ETFs spot e tesourarias corporativas amplia a legitimidade do setor.
Regulação: avanços regulatórios podem oferecer base sólida para consolidação do Bitcoin como instrumento financeiro.
Geopolítica: tensões globais podem levar o ativo a ser visto tanto como porto seguro quanto como risco adicional, dependendo do contexto.
Halving: evento programado a cada quatro anos reduz a criação de novas unidades, diminui a inflação da rede e tende a pressionar a oferta.
Investidores acompanham a combinação desses elementos para calibrar expectativas sobre o comportamento da criptomoeda na esteira das futuras decisões do Federal Reserve.