O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira, durante o simpósio anual de política monetária em Jackson Hole, Wyoming, que a “balança de riscos parece estar mudando” na economia dos Estados Unidos. A declaração reforçou expectativas de que o banco central poderá reduzir a taxa básica de juros na reunião marcada para meados de setembro.
Diante de dados recentes que mostram aceleração da inflação acima da meta de 2% e um relatório de emprego de julho mais fraco, com revisões negativas para maio e junho, Powell destacou que os riscos para o mercado de trabalho estão crescendo, enquanto o ritmo da atividade diminuiu no primeiro semestre, impactado por consumo mais lento.
Segundo o dirigente, tarifas já estão elevando preços ao consumidor e podem continuar pressionando a inflação nos próximos meses, embora ele considere que o efeito tende a ser temporário. “O que importa para a política monetária é se esses aumentos são capazes de provocar um problema de inflação persistente”, disse.
Powell avaliou também que a possibilidade de uma espiral de salários e preços é baixa, pois a demanda por trabalhadores vem arrefecendo. Ainda assim, alertou que o Fed não pode “tomar como garantida” a estabilidade das expectativas inflacionárias.
Depois de cortar a taxa dos Fed Funds em 100 pontos-base no ano passado, o banco central dispõe de margem para agir, afirmou o presidente do Fed. “Nossa taxa básica está agora 100 pontos-base mais próxima do nível neutro do que há um ano, e a estabilidade da taxa de desemprego permite que avancemos com cautela ao considerar mudanças na postura de política”, explicou.
Powell reiterou que a trajetória dos juros não está predeterminada e que cada decisão será tomada a partir da evolução dos indicadores econômicos.
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As bolsas norte-americanas subiram mais de 1% após o discurso, enquanto as apostas em um corte de 25 pontos-base em setembro passaram de 75% para 89,2%, de acordo com a ferramenta CME FedWatch. A probabilidade de manutenção da faixa atual de 4,25% a 4,50% caiu para 10,8%, e a chance de um corte de 50 pontos-base permaneceu em zero.
Ellen Zentner, estrategista-chefe do Morgan Stanley Wealth Management, avaliou que “a fraqueza no mercado de trabalho superou o risco inflacionário” na percepção do Fed. Já Seema Shah, estrategista global da Principal Asset Management, considerou que um corte de 25 pontos-base “faz sentido”, mas que um movimento de 50 pontos-base careceria de fundamento econômico.
Este pode ter sido o último pronunciamento de Powell em Jackson Hole como presidente do Fed, em meio às especulações sobre possíveis substitutos que devem ganhar força nas próximas semanas.