Uma onda de investimentos em tecnologias limpas está reposicionando países em desenvolvimento como protagonistas da transição energética. Turquia, Etiópia e Nepal despontam entre os mercados que mais aceleraram a adoção de veículos elétricos e fontes renováveis nos últimos meses, segundo dados de agências internacionais e centros de pesquisa.
Em 2024, as vendas de carros elétricos na Turquia mais que triplicaram, impulsionadas pela marca nacional Togg e por modelos importados da China. Os veículos elétricos já respondem por 27% dos automóveis comercializados no país, tornando-o o quarto maior mercado europeu nesse segmento.
No Nepal, mais de 70% dos carros importados em 2024 eram elétricos. Na Etiópia, cerca de 60% dos veículos novos utilizam bateria depois que o governo baniu a venda de automóveis com motor a combustão para reduzir gastos com combustíveis fósseis.
No Vietnã, as vendas de modelos elétricos dobraram no último ano, apoiadas pela montadora local VinFast. A Agência Internacional de Energia (AIE) calcula que, em 2024, as vendas de veículos elétricos em nações da África, Ásia e América Latina cresceram 60%.
No primeiro semestre de 2024, o Paquistão gerou 25% de sua eletricidade a partir da luz solar, aproximando-se dos 32% da Califórnia, referência norte-americana em energia limpa. O Instituto de Economia e Análise Financeira de Energia (IEEFA) projeta que, no ritmo atual, sistemas de baterias poderão suprir 26% da demanda de pico paquistanesa até 2030.
Marrocos elevou em 50% sua geração eólica em 2024, ocupando agora a nona posição mundial nessa fonte. Na Índia, a produção de energia a carvão caiu durante quatro meses seguidos, resultado de um aumento de 14% na oferta renovável.
A maior parte dos países do hemisfério Sul é importadora de petróleo e gás. A migração para tecnologias limpas reduz a necessidade de moeda estrangeira, como no caso da Etiópia, cuja proibição a motores de combustão teve motivação econômica.
Imagem: redir.folha.com.br
Nos mercados emergentes, veículos elétricos chineses já custam quase o mesmo que modelos convencionais. Na Tailândia, o preço médio foi de US$ 30 mil em 2024, ante US$ 34 mil dos carros a gasolina. Incentivos fiscais também pesam: na Turquia, o imposto sobre veículos elétricos é de 10%, contra uma alíquota entre 45% e 220% para automóveis movidos a combustíveis fósseis.
A AIE estima que o custo de capital de um projeto solar na Índia seja de 11%, aproximadamente o dobro do verificado em economias avançadas. Mesmo assim, o Rocky Mountain Institute aponta que a queda de preços permitiu atingir a “paridade de capex”, nivelando o investimento inicial de tecnologias limpas e de combustíveis fósseis em diversas regiões.
Com Estados Unidos e União Europeia limitando a entrada de carros chineses, montadoras direcionam vendas a mercados onde barreiras são menores. Esse cenário, porém, começa a mudar: o Brasil, que até pouco tempo não cobrava tarifa de importação sobre veículos elétricos, programou elevar o imposto para 35% até 2026.
A Índia desacelerou a importação de painéis solares prontos para fomentar sua cadeia interna, e a Nigéria avalia vetar completamente a entrada do produto. Em contrapartida, governos criam salvaguardas para manter o fluxo de equipamentos. O Brasil concedeu isenção à chinesa BYD durante a construção de sua fábrica local. A Indonésia reduziu o imposto sobre valor agregado de veículos elétricos de 11% para 1% nos modelos com 40% de conteúdo local, além de permitir a importação isenta de impostos para empresas que se comprometam com produção doméstica até 2026.
Mesmo com ajustes protecionistas, a combinação de custos mais baixos, políticas de incentivo e necessidade de reduzir despesas com combustíveis fósseis tem levado um número crescente de emergentes a adotar veículos elétricos e fontes renováveis em ritmo acelerado.