O mercado futuro de juros já precifica que a taxa Selic encerre 2026 em aproximadamente 12,5% ao ano, o que representa corte de cerca de 2,5 pontos percentuais distribuídos pelas dez reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) previstas para aquele ano. A avaliação é de Michael Viriato, assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
Apesar da projeção de recuo, o juro real permanece alto. Com o CDI e a Selic diária em 14,9% ao ano e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) esperado em 4,8% para 2025, a taxa real implícita supera 9,0% ao ano. Mesmo se a Selic atingir 12,5% em 2026, o juro real ainda ficará acima de 8% ao ano, patamar considerado elevado em comparação histórica.
Para que o cenário de cortes se confirme, a inflação teria de convergir para algo próximo de 4% ao ano. Caso contrário, o espaço para redução de juros pode se estreitar, observa Viriato.
Outro ponto de atenção é o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. Títulos de dez e vinte anos do Tesouro americano oferecem juros reais de 1,9% e 2,5% ao ano, respectivamente. Historicamente, a diferença em relação ao Brasil girou em torno de 5 pontos percentuais, mas hoje está mais estreita, reduzindo a margem para quedas adicionais sem pressão sobre o câmbio.
A proximidade das eleições também tende a elevar a volatilidade e o prêmio de risco. Segundo Viriato, é improvável um corte agressivo dos juros reais durante o período eleitoral, a menos que a inflação recue de forma significativa e os candidatos não sinalizem aumento de gastos públicos.
Para horizontes de longo prazo, títulos indexados ao IPCA continuam relevantes. Um Tesouro IPCA+ 2035, por exemplo, oferece juro real pouco acima de 7% ao ano, abaixo do juro real implícito na Selic projetada, mas ainda fornece proteção contra a inflação.
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Há ainda papéis corporativos isentos de Imposto de Renda que pagam IPCA + 7% ao ano; o rendimento bruto equivalente ultrapassa IPCA + 9% ao ano. Esses títulos, contudo, podem apresentar forte volatilidade em um cenário adverso em 2026.
Para investidores que buscam menor oscilação e liquidez previsível, fundos e títulos atrelados ao CDI e à Selic seguem entregando prêmio considerado atrativo pelo menos até o fim de 2026.
Viriato conclui que a decisão de investimento deve levar em conta o horizonte de cada investidor, já que o mercado antecipou a trajetória de queda dos juros.