São Paulo – O economista Samuel Pessôa, pesquisador do BTG Pactual e do FGV Ibre, afirma que cada hora trabalhada no Brasil gera apenas 20% do que é produzido na mesma hora nos Estados Unidos. Em artigo publicado nesta segunda-feira (data original do texto), ele divide as razões dessa diferença em dois grandes grupos: características vinculadas aos trabalhadores e empresários, e condições estruturais do ambiente de negócios.
De acordo com Pessôa, cerca de 50% da defasagem está relacionada às habilidades cognitivas e socioemocionais dos profissionais. Esses atributos, observa o economista, influenciam diretamente a produtividade tanto de empregados quanto de empreendedores.
O restante da diferença, segundo ele, decorre do entorno econômico. O principal fator é a má alocação de capital e trabalho entre as empresas. Pessôa ressalta que a estrutura tributária brasileira incentiva a permanência de pequenas companhias pouco produtivas, enquanto onera organizações maiores e mais eficientes.
Estudos citados pelo economista mostram que, dentro de um mesmo setor, as fábricas mais eficientes no Brasil se equiparam às de países ricos. Contudo, muitas empresas com desempenho fraco continuam ativas, reduzindo a produtividade média do setor.
Pessôa destaca que, nas economias desenvolvidas, empresas mais antigas tendem a ser também maiores, porque as menos eficientes desaparecem com o tempo. Já nos países de renda média, como o Brasil, essa seleção natural ocorre de forma incompleta, o que impede o aumento da escala e da produtividade.
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O economista menciona pesquisas que apontam gestão inferior nas empresas de países de renda média. Uma das hipóteses é que profissionais de gerência custem proporcionalmente mais caro nessas economias, dificultando a adoção de melhores práticas administrativas.
Ele acrescenta que o custo do capital no Brasil é elevado, sobretudo para a indústria manufatureira, intensiva em investimentos. Segundo Pessôa, o principal risco que afeta o prêmio cobrado pelos investidores atualmente é a sustentabilidade fiscal — no passado, o fator predominante era a fragilidade externa.
Para melhorar o quadro, Pessôa defende a simplificação tributária prevista na reforma em discussão no Congresso e a posterior eliminação de regimes especiais, como o Simples Nacional e o lucro presumido. Além disso, ele avalia que ampliar a poupança interna ajudaria a reduzir o custo de capital e, consequentemente, elevaria a produtividade.