Os setores norte-americanos mais afetados pela escalada tarifária do presidente Donald Trump desaceleraram contratações e iniciaram cortes de pessoal, reduzindo quase a zero o avanço do emprego no país.
Em agosto, a economia dos Estados Unidos criou apenas 22 mil vagas, segundo relatório divulgado na semana passada. O resultado refletiu perdas concentradas em áreas expostas às tarifas:
Diante do enfraquecimento do mercado de trabalho, economistas esperam que o Federal Reserve corte os juros na próxima semana, movimento que seria o primeiro de 2025. Em julho, o presidente do Fed, Jay Powell, já havia indicado que a menor criação de empregos poderia contrabalançar impactos inflacionários das tarifas.
Empresários atribuem os cortes principalmente ao encarecimento de insumos e à dificuldade de planejar investimentos. “Essas tarifas drenam recursos dos fabricantes. Sem previsibilidade, não conseguimos contratar nem expandir”, afirmou Julie Robbins, presidente-executiva da EarthQuaker Devices, em Akron (Ohio). A companhia, que emprega 35 pessoas, pretendia ampliar o quadro em até quatro funcionários, mas optou por congelar admissões.
Na Wyoming Machine, de metalurgia, a estratégia foi não substituir quem deixa o posto, disse a codiretora Traci Tapani. Já a John Deere calculou um impacto de US$ 300 milhões causado pelas tarifas em 2025 — valor que pode dobrar até dezembro — e dispensou 238 trabalhadores em fábricas de Illinois e Iowa, depois de registrar queda de 26% no lucro líquido do terceiro trimestre.
A indústria petrolífera cortou ao menos 4 mil vagas desde janeiro, ritmo que não era visto desde a pandemia em 2021. Anúncios de grandes players reforçam a tendência: a Chevron planeja eliminar até 8 mil empregos e a ConocoPhillips projeta 3.250 demissões. “As companhias estão se preparando para tempos mais difíceis”, afirmou o produtor texano Elliott Doyle.
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Apesar do quadro, parte do governo defende que as tarifas estimularão investimentos domésticos. “Para cada John Deere, há empresas dizendo que vão ampliar capital e contratar”, declarou o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
Números revistos pelo Bureau of Labor Statistics indicam que o mercado de trabalho já perdia fôlego antes de Trump reassumir o cargo: até março, havia quase 1 milhão de vagas a menos que o estimado originalmente.
Nesse ambiente, algumas empresas recorrem à automação. A New York Embroidery Studio, da empresária Michelle Feinberg, prevê reduzir parte dos cerca de 300 funcionários para manter competitividade, embora a fundadora continue favorável às tarifas por acreditar que elas incentivem a produção interna.
Enquanto a Casa Branca aposta em ganhos futuros, executivos de diferentes ramos optam pela cautela até que o cenário tarifário ganhe clareza.