O próximo leilão federal para contratação de potência elétrica, previsto para 2026, recebeu múltiplos pedidos de ajuste durante a consulta pública encerrada na última sexta-feira (12). Produtores de biodiesel reivindicaram a volta dos biocombustíveis à disputa, enquanto diferentes agentes do setor elétrico defenderam a exclusão ou a segregação do carvão mineral.
Associações e empresas como Cofco, Oleoplan, Binatural, Potencial, Delta Energia, Ubrabio e Unica argumentam que o uso de biodiesel e outras biomassas é compatível com a política de transição energética e aumenta a confiabilidade do sistema. Elas citam motores de grande porte de fabricantes como MAN, Wärtsilä e Caterpillar capazes de operar com 100% de biodiesel.
O biocombustível integrava uma versão anterior do leilão, cancelada pelo governo. Ao relançar o certame, o Ministério de Minas e Energia retirou a fonte alegando dúvidas sobre logística, custos e adaptação de usinas hoje movidas a diesel.
Segundo a Delta Energia, dois projetos a biocombustível inscritos anteriormente já consumiram recursos em estudos, compra de terrenos e licenciamento ambiental. A Binatural informou ter suspendido um investimento de R$ 500 milhões em um “complexo termelétrico sustentável”. Caso o biodiesel permaneça de fora, a Unica solicita que etanol e biogás sejam autorizados a participar.
A introdução do carvão na concorrência surpreendeu parte do setor. Em sua contribuição, a Petrobras — maior geradora termelétrica do país — avaliou que usinas a carvão não oferecem a flexibilidade exigida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e sugeriu que essas plantas disputem em um produto específico, junto com unidades a óleo combustível, e não concorram com termelétricas a gás conectadas à malha de dutos.
A Associação Brasileira do Carvão (ABCS) pediu que o início de suprimento dos contratos seja adiado de 1.º de julho para 1.º de setembro de 2027. O ajuste permitiria a inclusão da UTE Pecém I, no Ceará, pertencente ao grupo Diamante Energia. A entidade também considera que os parâmetros operacionais propostos não contemplam usinas com contratos mínimos de fornecimento de combustível, como Candiota, no Rio Grande do Sul, da Âmbar Energia. A própria Âmbar já classificou a participação de Candiota como “economicamente inviável” nas condições atuais.
Imagem: redir.folha.com.br
O certame é considerado prioritário pelo ONS para evitar riscos de déficit de geração e apagões. Após sucessivos atrasos, o governo trabalha com cronograma enxuto e sinaliza pouca margem para grandes mudanças, embora ainda avalie as contribuições recebidas.
Com 2,9 gigawatts de capacidade a gás natural sem contrato, a Petrobras confirmou interesse em disputar o leilão para recomercializar parte de seu parque térmico.
O governo deve publicar a versão final do edital nos próximos meses. Até lá, permanece a pressão por ajustes que conciliem segurança energética, custos e metas de descarbonização.