Empresas de menor porte nos Estados Unidos estão assumindo empréstimos de curto prazo, com juros acima de 20% ao ano, para cobrir tarifas de até 50% aplicadas pelo governo Donald Trump sobre produtos importados da China.
A Slope, fintech de crédito apoiada pelo JPMorgan Chase, informou que os pedidos por suas linhas de financiamento saltaram 730% em agosto de 2025 em relação ao mesmo mês do ano anterior. O aumento coincidiu com a confirmação de que as sobretaxas permanecerão vigentes ao menos até novembro, enquanto Washington e Pequim mantêm negociações.
Joseph Asia, proprietário da Pardes Farms, no Brooklyn, é um dos afetados. As tarifas acrescentaram cerca de US$ 2.000 ao custo de cada contêiner de vegetais congelados kosher importados da China. Para evitar repassar o aumento ao consumidor, ele contratou uma linha de crédito de US$ 200 mil pela Slope, com juros superiores a 20% ao ano.
“Vimos um enorme aumento na demanda por causa das tarifas”, afirmou a cofundadora da Slope, Alice Deng.
Uma coalizão de pequenos negócios, que inclui lojas de equipamentos de pesca e fabricantes de tubos, acionou a Suprema Corte questionando o poder do presidente de impor tarifas sem aval do Congresso. O tribunal deverá analisar o caso em novembro. Até lá, importadores continuam obrigados a pagar as taxas logo após a chegada da carga aos portos norte-americanos.
Startups como Slope, Clearco e Wayflyer, que agilizam a concessão de crédito para empresas com receita anual de até US$ 25 milhões, voltaram a crescer graças às tarifas. A Clearco elevou em 46% o volume emprestado em julho e agosto frente ao mesmo bimestre de 2024, enquanto a Wayflyer registrou aumento de 28% nos pedidos de julho para agosto, quase o triplo do padrão sazonal, segundo seus executivos.
Fundada em 2021 e sediada em São Francisco, a Slope aprova até US$ 250 mil instantaneamente e valores de até US$ 3 milhões em dois dias úteis. Já a irlandesa Wayflyer afirma ter concedido crédito a 5.000 clientes de comércio eletrônico desde 2019.
Um importador de embalagens plásticas de Nova Jersey recorreu a um empréstimo de 60 dias, também da Slope, para quitar US$ 300 mil em tarifas sobre 100 contêineres vindos da China. A operação custará cerca de US$ 9.000 de juros, ou 1,5% ao mês.
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Outro empresário, que traz artigos esportivos e utensílios de cozinha, passou a usar a fintech com mais frequência para saldar “centenas de milhares de dólares” em tarifas antes mesmo de receber da Amazon e de outras varejistas. Ele aumentou preços entre 15% e 20% para compensar os custos, mas ainda precisa de capital antecipado.
A marca de suplementos Obvi garantiu crédito preventivo para repor estoques antes de 2026. Segundo o CEO Ron Shah, tarifas sobre embalagens chinesas e colágeno brasileiro elevaram os custos de produção em 12%. “Precisamos de 60 dias de fôlego para entender o cenário”, disse.
Em Sacramento, Will Chau deixou de importar geradores solares da China após as tarifas inviabilizarem o lucro. Ele solicitou US$ 100 mil à Slope para migrar para casas modulares pré-fabricadas no Canadá, ofertadas em feiras na Califórnia, Washington e Arizona.
Joseph Asia enviou carta à Casa Branca pedindo que alimentos recebam o mesmo tratamento fiscal de alguns estados, que isentam itens básicos de impostos sobre vendas. “Entendo tarifar eletrônicos como o iPhone, mas não comida”, argumentou o empresário.
Enquanto aguarda uma decisão judicial ou política, a solução para muitos pequenos importadores é contrair dívidas caras que permitam pagar as tarifas no prazo e evitar multas ou apreensão de mercadorias.