A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 15% ao ano na quarta-feira (17) reforçou a pressão de curto prazo sobre os fundos de investimento imobiliário (FIIs), enquanto o mercado volta as atenções para o comportamento dos juros futuros e para a tramitação da Medida Provisória 1303, que propõe a tributação dos dividendos pagos por esses veículos.
Com a taxa básica nos níveis atuais, os títulos de renda fixa continuam atraindo recursos, o que tende a reduzir a demanda por ativos listados em Bolsa. Segundo Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital, muitos investidores comparam diretamente o dividendo mensal dos FIIs com a remuneração do CDI, pressionando as cotações.
Entre as categorias de fundos, os chamados “fundos de tijolo” — que compram imóveis físicos — sentem o impacto com mais intensidade. Para Marcelo Aoki, sócio-fundador da Catálise, o encarecimento do crédito torna mais difícil o financiamento de projetos e a alavancagem, fatores relevantes para esses portfólios.
Já os “fundos de papel”, que investem em títulos atrelados ao CDI ou à inflação, podem se beneficiar dos juros elevados, pois repassam parte dessa remuneração em forma de rendimentos mais altos aos cotistas, explicou Aoki.
Marcos Baroni, head de FIIs da Suno Research, avalia que a taxa Selic à vista tem efeito marginal em relação a outros dois gatilhos: a curva de juros futuros e a MP 1303.
Nos contratos futuros DI1F26, DI1F27 e DI1F28, as taxas permanecem próximas de 14% ao ano, sinal de que o mercado ainda não precifica cortes consistentes. Baroni ressalta que uma indicação clara de queda nos juros, a ser verificada na ata do Copom ou em comunicados posteriores, poderia impulsionar a reprecificação dos fundos imobiliários e de outros ativos de renda variável.
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Publicada em junho, a MP 1303 estabelece cobrança de 5% sobre os dividendos de FIIs — hoje isentos — e reduz a alíquota de imposto de renda sobre ganho de capital de 20% para 17,5%. O texto precisa ser aprovado pelo Congresso em até 120 dias, prazo que se encerra em 8 de outubro; caso contrário, perde a validade. Parte do mercado acredita que os FIIs possam ser excluídos da proposta, a exemplo do que ocorreu com as debêntures incentivadas.
Mesmo com o cenário desafiador, os analistas consultados afirmam que os FIIs continuam a fazer sentido na carteira. Aoki cita três motivos principais:
Por esse conjunto de fatores, os especialistas recomendam seleção criteriosa dos ativos, sem perder de vista o desenrolar da curva de juros e das discussões sobre tributação no Congresso.