BTG Pactual amplia empréstimos e aquisições para reduzir dependência de trading

São Paulo – Uma década depois de assumir o comando do BTG Pactual, o presidente Roberto Sallouti afirma ter mudado o perfil do banco, que era centrado em trading, para um modelo de receitas mais diversificado.

No balanço de 2024, a área de corporate lending gerou sozinho R$ 7,6 bilhões e superou, pela primeira vez, o resultado de sales & trading. Já os valores de terceiros sob gestão multiplicaram-se por mais de cinco vezes em dez anos, enquanto os recursos de clientes de alta renda mais que dobraram. Somados, asset e wealth management respondem hoje por quase um quarto do faturamento.

Aquisições e expansão regional

O BTG tem recorrido a compras para ganhar escala. Em julho de 2025, fechou acordo para adquirir a operação do HSBC no Uruguai por US$ 175 milhões (cerca de R$ 973 milhões à época), adicionando o país à presença já existente no Chile, Colômbia, México e Argentina. O banco também busca licença no Peru e comprou o FIS Privatbank, em Luxemburgo, além do MY Safra Bank, em Nova York.

Em Miami, incorporou o multifamily office Greytown Advisors, acrescentando US$ 1 bilhão em ativos de clientes ultrarricos da América Central. No Brasil, concluiu em março de 2025 a aquisição da unidade do Julius Baer, seguida, em abril, pela compra do negócio de wealth da gestora JGP. Dois meses depois, aceitou comprar cerca de R$ 1,5 bilhão em ativos do Banco Master.

“As compras servem para ganhar escala, entrar em novas geografias ou preencher lacunas de produto, sempre com foco em retorno sobre o patrimônio”, disse Sallouti.

Rede de sócios e novos negócios

As aquisições trouxeram executivos que se tornaram sócios do banco, entre eles Rubens Henriques, da Clave Capital; Fernando Vallada, ex-Julius Baer; e Marcello Correa, ex-Greytown. Ao ingressar, o sócio toma um empréstimo para comprar ações pelo valor contábil do BTG, paga juros atrelados à Selic (15%) e quita a dívida com bônus e dividendos.

O banco também abriu, em 2022, uma área de empréstimos sindicalizados, liderada por Ernesto Meyer. Em 2025, estruturou um empréstimo-ponte de US$ 2 bilhões para a colombiana Grupo Nutresa. A carteira de crédito total, incluindo garantias e outros instrumentos, alcançou R$ 267,6 bilhões em junho, dos quais R$ 28,7 bilhões destinados a pequenas e médias empresas — alta de 22% em 12 meses.

Imagem: redir.folha.com.br

Aposta no varejo digital

Lançada em 2016, a plataforma de investimentos para pessoas físicas conta hoje com 20 escritórios próprios e cerca de 170 parceiros independentes. O grupo administra e gere mais de R$ 2 trilhões, valor semelhante ao da XP. Além de investimentos, oferece cartões, seguros e serviços de pagamento.

Resultados e avaliação de mercado

As ações do BTG acumulam alta de quase 70% em 2025, maior valorização entre os grandes bancos latino-americanos. O retorno sobre o patrimônio líquido alcançou 27,1% anualizado no segundo trimestre, e Sallouti projeta manter pelo menos 24% em 2025 e 2026.

A transformação, porém, levanta dúvidas. Analistas do Goldman Sachs apontam governança complexa, enquanto a Eleven Financial vê riscos na expansão do crédito para médias empresas. Murilo Arruda, da Morada Capital, elogia o desempenho, mas questiona “qual coelho sairá da cartola” para sustentar a rentabilidade.

Apesar das críticas, o BTG passou Bradesco e Banco do Brasil em valor de mercado e se tornou, neste ano, o segundo maior banco da América Latina — passo considerado essencial para a ambição de rivalizar com o Itaú, que detém cerca de R$ 3 tri em ativos.

A administração diz manter cautela em meio aos juros elevados no Brasil e à volatilidade global provocada, entre outros fatores, pela tarifa de 50% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre parte das importações brasileiras. “Colocamos o cenário na conta e seguimos trabalhando”, afirmou Sallouti.