Empregadores no Brasil apresentam propensão 50% maior a contratar trabalhadores do mesmo partido político, revelam dados coletados entre 2002 e 2019. A conclusão faz parte do estudo “Politics at Work”, conduzido pelos economistas Emanuele Colonnelli, Valdemar Pinho Neto e Edoardo Teso, publicado na revista American Economic Review.
Os pesquisadores cruzaram informações da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), dados da Receita Federal e registros de filiação partidária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O alinhamento político foi mensurado por um índice de matching, que compara bilhões de pares trabalhador–dono dentro de mercados locais muito específicos.
Contratações: empregadores contratam copartidários cerca de 50% acima do esperado no mesmo mercado.
Salários: trabalhadores alinhados ao partido do proprietário recebem, em média, prêmio salarial de 3,8%. Quando o cargo é considerado, o bônus recua para 2,8%. Já filiados a partidos opostos enfrentam penalidade de 1,6%.
Promoções: copartidários avançam mais rápido tanto para funções administrativas quanto para cargos de gestão.
Um estudo de evento mostrou que, quando o dono da empresa muda de partido, aumentam as contratações e a massa salarial de funcionários do “novo” partido, enquanto diminuem as do partido anterior. Para isolar a discriminação política de possíveis redes pessoais, os autores realizaram um experimento: currículos quase idênticos foram enviados a empregadores reais, com apenas sinais discretos de filiação partidária; os candidatos alinhados ao recrutador foram, sistematicamente, melhor avaliados.
Imagem: redir.folha.com.br
Os pesquisadores investigaram se o fenômeno estaria ligado ao clientelismo – troca de favores com o setor público – e não encontraram evidências. O alinhamento interno não aumentou quando o partido do dono venceu eleições locais nem em setores mais dependentes de contratos públicos, indicando que a preferência pessoal do empregador pesa mais.
Segundo o trabalho, copartidários em cargos de chefia apresentam, em média, menor escolaridade, e empresas com maior fração de funcionários alinhados politicamente registram crescimento inferior ao de concorrentes. Os autores apontam que a prática, além de levantar questões de equidade, afeta a eficiência e freia ganhos de produtividade.
Entre as medidas citadas para mitigar o viés estão triagens cegas a sinais partidários, entrevistas estruturadas, critérios claros de desempenho e auditorias periódicas que confrontem promoções e salários com resultados objetivos.