NOVA YORK – Paralisações prolongadas das atividades do governo dos Estados Unidos tendem a impulsionar os preços dos títulos do Tesouro de vencimentos mais longos, mostra estudo do Citigroup. A avaliação surge enquanto Washington se aproxima de mais um possível shutdown.
O estrategista Edward Acton analisou os últimos 30 anos e verificou que, antes ou durante suspensões estendidas, os treasuries de prazos maiores se valorizaram. O exemplo mais expressivo ocorreu em 2018: a paralisação superior a um mês derrubou os rendimentos dos papéis de dez anos em quase 0,5 ponto percentual, movimento que começou ainda na fase de incerteza e temor de recessão.
“Historicamente, os treasuries reagem de forma mais positiva em shutdowns prolongados, enquanto os mercados de risco permanecem relativamente firmes”, escreveu Acton em nota divulgada na segunda-feira (29).
Em paralisações anteriores, o impacto sobre o crescimento foi temporário, pois funcionários públicos considerados não essenciais ficaram em licença não remunerada. Desta vez, o Citigroup aponta risco maior, devido a declarações da Casa Branca sobre cortes de pessoal em larga escala e à possibilidade de atraso na divulgação de indicadores econômicos, como o relatório de emprego do Bureau of Labor Statistics previsto para sexta-feira (3).
Mercados de apostas já indicam interrupção superior a cinco dias, o que pode adiar dados cruciais sobre o mercado de trabalho e ampliar a percepção de risco econômico, conforme Acton.
Diferentemente das disputas sobre o limite de endividamento, um shutdown não ameaça calote da dívida norte-americana, mas funciona como freio ao crescimento. A eventual postergação do relatório de empregos preocupa o mercado de renda fixa, que busca sinais de desaquecimento no mercado de trabalho para embasar expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve na reunião deste mês.
Imagem: redir.folha.com.br
“As implicações de um shutdown crescem conforme a duração se estende. Se for curto, o dano é menor para a economia real e, consequentemente, menos relevante para os mercados financeiros”, avaliou Ian Lyngen, estrategista do BMO Capital Markets, em relatório.
Na dupla paralisação de 1995 – uma delas avançando até o início de 1996 – os rendimentos dos títulos de dez anos recuaram de 6,61% em agosto para 5,52% em janeiro seguinte.
O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) calculou que o shutdown de 2018-19 reduziu o crescimento em cerca de 0,3%, referência que pode ser considerada, segundo Acton. Ele ressalva, contudo, que a valorização dos treasuries agora pode ser limitada, diante do quadro fiscal frágil e da demanda fraca observada recentemente em leilões do Tesouro.
Mesmo assim, Lyngen observa que investidores “parecem dispostos a negociar o risco de um shutdown como fator positivo para os títulos” do governo americano.