As garantias dadas pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, de que Washington dará “todas as opções para estabilizar” a economia argentina passaram a ser testadas pelos investidores nesta semana.
Após a declaração de Bessent, feita há uma semana, os ativos argentinos chegaram a subir, mas o entusiasmo durou pouco. Na terça-feira (30), o peso argentino recuou mais de 6% frente ao dólar, obrigando o governo do presidente Javier Milei a entrar no mercado de câmbio. A moeda voltou a perder valor na quarta-feira (1º), levando as autoridades a novas vendas de dólares.
A capacidade de Buenos Aires para segurar as pressões cambiais é reduzida pelas baixas reservas internacionais. A situação expõe a necessidade de ajuda externa e deixa em evidência o tamanho real do suporte que os Estados Unidos pretendem oferecer.
Em postagem no X (ex-Twitter) nesta quinta (2), Bessent afirmou que o Tesouro está “totalmente preparado para fazer o que for necessário” e disse ter conversado com o ministro da Economia argentino, Luis Caputo, que viajará a Washington nos próximos dias para discutir “opções de apoio financeiro”. Em entrevista à CNBC, o secretário detalhou que se trata de uma “linha de swap”, não de transferência direta de recursos.
Títulos argentinos com vencimento em 2035 chegaram a avançar depois da nova mensagem de Bessent, mas perderam fôlego por falta de informações adicionais. Os papéis acumularam quatro dias de queda, enquanto o peso registra desvalorização de cerca de 7% na semana.
O respaldo de Washington não é consensual. Produtores de soja dos EUA veem a Argentina como concorrente depois de perderem o mercado chinês, e parlamentares questionam o socorro. O senador republicano Chuck Grassley perguntou nas redes sociais por que o país “ajudaria a Argentina enquanto ela ocupa o maior mercado dos produtores americanos de soja”.
Uma foto divulgada pela Associated Press mostrou Bessent examinando suposta mensagem da secretária de Agricultura, Brooke Rollins, com preocupações sobre o plano de ajuda, segundo a CNN.
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Desde 2018, três governos argentinos já contrataram US$ 55 bilhões em pacotes do FMI sem conseguir estabilizar a economia. Especialistas questionam qual valor seria necessário agora e quais serão as condições impostas. O Federal Reserve, que em crises anteriores ofereceu linhas de swap com capacidade praticamente ilimitada, não sinalizou participação até o momento.
Para Pedro Quintanilla-Dieck, estrategista do UBS, “maior clareza sobre termos, condicionalidades e duração” do apoio dos EUA poderia destravar ganhos para os títulos argentinos, hoje em níveis deprimidos.
Enquanto isso, investidores esperam mudanças na política cambial após as eleições legislativas de 26 de outubro. A dúvida é se o atual arranjo cambial suportará as pressões até lá.
Reportagem concluída em 2 de outubro de 2025.