Rio de Janeiro – A adoção da tarifa zero no transporte coletivo urbano, já implementada em diversos municípios do país, amplia o acesso a ônibus e metrôs, mas impõe pressões financeiras e operacionais às prefeituras, segundo a economista e professora da PUC-Rio, Cecilia Machado.
O tema vem ganhando força com o argumento de que a gratuidade favorece a inclusão social, ao eliminar um custo que pesa mais sobre as famílias de baixa renda e facilitar a chegada a empregos, escolas e serviços. Estudos citados pela economista mostram, contudo, que os ganhos econômicos diretos são limitados.
Nos Estados Unidos, pesquisa recente registrou que o uso do transporte público entre a população de baixa renda duplicou após a gratuidade. Os beneficiários apresentaram melhora em indicadores de saúde e de situação financeira, mas não houve impacto significativo sobre emprego ou renda.
Levantamento sobre cidades brasileiras que zeraram a tarifa aponta avanço médio de 3,2% no emprego e redução de 4,1% nas emissões de gases de efeito estufa. Esse “desacoplamento” entre crescimento econômico e poluição é incomum, destaca Machado, mas os benefícios ambientais não compensam integralmente o peso fiscal para os cofres municipais.
Sem a arrecadação tarifária, as prefeituras precisam assumir integralmente o custo do sistema. O novo gasto disputa espaço com outras despesas prioritárias, como manutenção de serviços públicos e infraestrutura urbana — justamente os itens que a política de tarifa zero busca tornar mais acessíveis à população.
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A gratuidade tende a elevar a demanda também para deslocamentos não essenciais, inclusive entre usuários que poderiam arcar com a passagem. Em cenários de oferta limitada, esse aumento pode provocar superlotação, elevar custos operacionais e reduzir a eficiência do serviço, alerta a economista.
De acordo com Machado, subsídios direcionados a grupos de baixa renda ou a horários de pico podem alcançar objetivos semelhantes com menor impacto fiscal. Investimentos em integração, ampliação da oferta e melhoria da confiabilidade do sistema são outras medidas apontadas como capazes de ampliar o acesso e reduzir o tempo de viagem.
A especialista defende que políticas universais como a tarifa zero sejam avaliadas com rigor, considerando fontes de financiamento estáveis e a capacidade de oferta do sistema para evitar efeitos contrários aos pretendidos.