Autoridades, funcionários e marcas francesas se mobilizam para evitar que a Shein inaugure, em 1º de novembro, um espaço de 1.000 m² no sexto andar do BHV Marais, tradicional loja de departamentos no centro da capital.
A iniciativa da varejista chinesa de fast fashion provocou protestos de empregados do BHV na sexta-feira (10), paralisação temporária dos caixas e uma petição online que reuniu quase 100 mil assinaturas em uma semana. Manifestantes acusam a empresa de recorrer a mão de obra barata, descumprir normas ambientais e violar direitos trabalhistas.
A prefeita Anne Hidalgo declarou no LinkedIn que “Paris denuncia a instalação da Shein, símbolo do fast fashion, no BHV Marais”, prédio erguido em 1856 e conhecido como Bazar do Hôtel de Ville. Parlamentares também avançam com projetos para limitar a expansão digital da companhia.
Antes da última Semana de Moda de Paris, o Senado aprovou proposta apelidada de “anti-Shein”. O texto cria taxa de até 10 € por peça comprada em plataformas como Shein e Temu, obriga relatórios de impacto ambiental, proíbe anúncios dessas empresas no país e prevê sanções a influenciadores que as promovam. A medida ainda precisa de votação final.
Em julho, a Autoridade de Concorrência da França multou a Shein em 40 milhões de euros por “práticas comerciais desleais”, após um ano de investigação. Nos Estados Unidos, o governo Trump já havia fechado brecha que permitia a entrada de encomendas de baixo valor sem cobrança de impostos, atingindo o modelo logístico da varejista.
Capitais europeias discutem taxar pequenos pacotes de empresas chinesas até a entrada em vigor de um imposto unificado da União Europeia, prevista para daqui a um ano.
A expansão física da Shein na França depende de acordo firmado com a Société des Grands Magasins (SGM), controladora do BHV Marais e de lojas Galeries Lafayette em Dijon, Reims, Grenoble, Angers e Limoges. A SGM negocia a compra integral do prédio do BHV, mas o banco estatal francês que participaria da operação recuou por causa da parceria com a varejista chinesa.
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Um porta-voz da SGM afirmou que a Shein “cumprirá todas as normas europeias” e pretende “adaptar seu modelo de produção às exigências do continente”. A empresa não respondeu aos pedidos de comentário da imprensa.
Em protesto, grifes francesas como Aime, Talm, Culture Vintage e Le Slip Français anunciaram saída do BHV Marais. “Nossas escolhas coletivas moldam o futuro da indústria”, escreveu a presidente da Aime, Mathilde Lacombe, em rede social.
A Shein, por sua vez, alegou que escolher a França para testar lojas permanentes é uma “homenagem à capital da moda” e ao “espírito de criatividade e excelência” do país. A companhia também planeja pontos de venda em outras cinco cidades francesas.
A disputa continua sem solução definida enquanto o calendário avança para a data programada de abertura.