O Bitcoin (BTC) iniciou a segunda semana de outubro em meio a forte tensão nos mercados, depois de recuperar-se da maior liquidação já registrada no setor de criptomoedas.
Entre sexta-feira (10) e segunda-feira (13), a cotação passou de mínima de US$ 109.700 para máxima de US$ 116.000, avanço de 5,7%, segundo dados do Cointelegraph Markets Pro e do TradingView. O movimento ocorreu após um anúncio tarifário ligado à guerra comercial entre Estados Unidos e China desencadear pânico generalizado, que atingiu ações, ouro e ativos digitais.
Mesmo com a turbulência, o valor de mercado total das criptomoedas acrescentou mais de US$ 500 milhões desde os pisos de sexta-feira. Para o cofundador do The Kobeissi Letter, Adam Kobeissi, o episódio representou “uma das maiores e mais rápidas transferências de riqueza da história das criptos”.
Medições de volatilidade implícita apontam que o mercado agora precifica oscilações maiores para o BTC. O analista on-chain Frank A. Fetter destacou que o indicador não alcançava patamar semelhante desde abril, auge da tensão comercial entre Washington e Pequim.
Operadores divergem sobre o próximo rumo. Para o trader Roman, a retração da semana passada respeitou uma linha de tendência iniciada em agosto de 2024 aos US$ 40 mil. Caso o suporte seja perdido, ele vê confirmação de um novo mercado de baixa, com reteste na faixa de US$ 107 mil a US$ 108 mil.
Visão diferente tem o trader Skew, que notou entrada de grandes compradores após a reconquista dos US$ 115 mil. Na avaliação dele, o cenário permanece favorável enquanto o preço não fechar abaixo de US$ 112 mil nos gráficos diário e semanal, com resistência principal em US$ 120 mil.
Análise de livro de ordens feita pelo trader SuperBro indica zonas de liquidez entre US$ 108,5 mil e US$ 113 mil, além de um “hot spot” entre US$ 123 mil e US$ 128 mil, área próxima ao recorde histórico de US$ 126 mil.
Informações da Glassnode mostram que as taxas de financiamento nos derivativos despencaram aos níveis mais baixos desde o fundo do mercado em 2022, sinal de forte redução em posições alavancadas. Dados da CoinGlass revelam que o open interest agregado caiu de US$ 89 bilhões para US$ 69 bilhões durante o pico de liquidações, antes de recuperar-se para US$ 74 bilhões. Apenas no Bitcoin, mais de US$ 10 bilhões em contratos foram eliminados.
Imagem: Trader Iniciante 2 (17)
Nos Estados Unidos, a paralisação parcial do governo pode adiar a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) e do Índice de Preços ao Produtor (PPI) de setembro, anteriormente previstos para quinta-feira (16). Com isso, a atenção se volta às aparições públicas de dirigentes do Federal Reserve, entre eles o presidente Jerome Powell, que discursa na Associação Nacional de Economia Empresarial, na Filadélfia.
O mercado futuro de Fed Funds, monitorado pela ferramenta FedWatch do CME Group, atribui probabilidade quase unânime de corte de 0,25 ponto percentual na reunião de 29 de outubro.
Enquanto o Bitcoin reage, o ouro atingiu novo pico histórico de US$ 4.078 por onça na segunda-feira. Para a Mosaic Asset Company, o movimento reforça a chamada “aposta na desvalorização”, estratégia que busca proteger carteiras contra perda de valor das moedas fiduciárias diante do aumento da base monetária e de dívidas governamentais.
Analistas da casa alertam, contudo, que o mesmo fenômeno pode reacender pressões inflacionárias nos próximos meses, especialmente à medida que indicadores de “preços pagos” em pesquisas regionais do Fed voltam a subir.
Com liquidez reduzida, participação elevada de algoritmos e nível recorde de alavancagem, observadores como o The Kobeissi Letter preveem que reações extremas do mercado — como as vistas em 10 de outubro, quando foram eliminados US$ 19,5 bilhões em criptos e US$ 2,5 trilhões em ações — podem repetir-se com mais frequência.
Assim, investidores de Bitcoin encaram a nova semana equilibrando a possibilidade de avanço além de US$ 120 mil contra o risco de uma confirmação de mercado de baixa, enquanto aguardam sinais de Washington e do Federal Reserve.