Londres, 24.out.2025 – A escalada de investimentos em inteligência artificial (IA) representa um risco econômico mais grave do que as tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos à China, avalia o colunista Alan Beattie, do Financial Times.
Segundo Beattie, uma “bolha” de capital se formou em torno de projetos de IA, sobretudo na construção de data centers, sem que haja retorno financeiro comprovado. Caso esse mercado entre em colapso, o impacto sobre o crescimento norte-americano pode superar o estouro da bolha das empresas de tecnologia no fim dos anos 1990.
Em 2 de abril, dia batizado pelo ex-presidente Donald Trump como “dia da libertação”, Washington anunciou tarifas massivas contra produtos chineses. Temia-se que a medida desencadeasse uma recessão global, cenário que não se confirmou. Esta semana, o FMI projetou desaceleração moderada do PIB mundial de 3,3% em 2024 para 3,2% em 2025 e 3,1% em 2026.
Beattie lembra que, embora altas, as tarifas médias de importação dos EUA chegaram a 16%, índice insuficiente para paralisação do comércio internacional. A participação norte-americana na demanda final global por importações é de 17,5%.
Pequim respondeu com restrições a produtos agrícolas, como soja, e ameaçou controlar exportações de minerais de terras raras, mas não iniciou uma onda protecionista ampla. Ao mesmo tempo, conseguiu redirecionar parte de suas vendas externas para outros mercados.
Nos EUA, a queda das bolsas em abril e novo recuo na semana passada levaram Trump a conceder isenções tarifárias a parceiros como México e Canadá, evitando alta imediata de preços ao consumidor.
Beattie critica a guinada do governo norte-americano para combustíveis fósseis e IA, em detrimento de energias renováveis e veículos elétricos. Para o colunista, abandonar tecnologias verdes significa perder ganhos de produtividade já comprovados.
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Ao mesmo tempo, a Casa Branca autorizou Nvidia e AMD a exportarem semicondutores avançados à China em troca do pagamento de 15% de imposto sobre o lucro, decisão classificada como falha na proteção da vantagem tecnológica dos EUA.
Do lado chinês, duas ameaças permanecem no radar, afirma Beattie: o uso excessivo de restrições a terras raras, capazes de afetar cadeias globais de suprimento, e o eventual retorno a um modelo de crescimento baseado em exportações, que pode gerar novos desequilíbrios comerciais.
As tarifas anunciadas no “dia da libertação” entram em vigor em agosto, e novas medidas setoriais estão previstas. Até agora, porém, o colunista considera as intervenções de Trump um incômodo administrável para o comércio mundial.
“A economia global pode suportar interrupções no fluxo bilateral de mercadorias entre EUA e China”, resume Beattie. Para ele, o verdadeiro teste será a reação do mercado caso a bolha de inteligência artificial estoure.