A petrolífera norte-americana Chevron tornou-se um dos principais sustentáculos financeiros da Venezuela, mesmo enquanto o governo dos Estados Unidos reforça sanções e aumenta a pressão contra o presidente Nicolás Maduro.
Em setembro, as exportações de petróleo venezuelano alcançaram o patamar mais alto desde 2020, resultado, em parte, da retomada das atividades da Chevron após uma proibição temporária imposta pela administração Donald Trump. As operações da companhia representam cerca de 25% da produção total do país e responderam por até 80% do crescimento do setor nos últimos dois anos, segundo o especialista Francisco J. Monaldi, da Universidade Rice.
A Casa Branca concedeu à Chevron uma autorização para continuar bombeando petróleo, sob a condição de que a moeda forte obtida com as vendas não seja enviada diretamente ao sistema bancário venezuelano. Ainda assim, analistas afirmam que o acordo gera recursos suficientes para que Caracas invista em itens básicos, como alimentos e medicamentos.
“A receita do petróleo mantém a Venezuela funcionando”, afirma o economista Francisco Rodríguez. Para ele, a presença da empresa ajuda a conter um novo agravamento da crise humanitária que já provocou o êxodo de milhões de pessoas.
Maduro enalteceu publicamente a companhia. “Quero a Chevron aqui por mais 100 anos”, declarou, lembrando que a petrolífera opera no país desde 1923. Ao mesmo tempo, opositores acusam a multinacional de dar fôlego a um regime autocrático. “A Chevron fez o possível para minar a luta pela democracia na Venezuela”, critica Pedro Mario Burelli, ex-diretor da estatal PDVSA.
A empresa, por sua vez, defende-se. “Nossa presença é uma força estabilizadora para a economia local, para a região e para a segurança energética dos EUA”, disse o porta-voz Bill Turenne.
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Diferentemente de concorrentes que abandonaram o país após as nacionalizações promovidas por Hugo Chávez, a Chevron permaneceu na Faixa do Orinoco, região de petróleo pesado que exige tecnologia avançada de extração e refino. A decisão foi influenciada pelo então executivo Ali Moshiri, que mantinha relações próximas com o governo venezuelano e acreditava no potencial de longo prazo das maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo.
A atuação da Chevron enfrentou interrupções na produção, prisão de funcionários e uma dívida venezuelana que chegou a US$ 3 bilhões. Há ainda o temor de que eventuais mudanças na política dos EUA interrompam novamente as operações. Monaldi ressalta, contudo, que mesmo um futuro governo de oposição terá de negociar com a empresa para acelerar investimentos no setor.
Enquanto isso, a gigante americana segue conectando dois países em conflito — e garantindo a entrada de divisas vitais na combalida economia venezuelana.