São Francisco – A poucos dias do Dreamforce 2025, o principal encontro anual da Salesforce, o presidente-executivo Marc Benioff declarou ao New York Times que apoiava totalmente o governo Donald Trump e pedia o envio da Guarda Nacional a São Francisco. A fala gerou reação imediata, culminou na saída de um conselheiro de sua fundação filantrópica e, após uma semana de críticas, levou o executivo a se retratar publicamente nesta sexta-feira (17).
Benioff publicou no X (ex-Twitter) que o comentário havia sido motivado por “cautela” em relação à segurança do evento e pediu desculpas “pela preocupação causada”. O recuo ocorreu um dia após o encerramento do Dreamforce, que recebeu cerca de 50 mil participantes de 150 países.
A polêmica provocou a renúncia de Ron Conway, investidor de risco e amigo de longa data do executivo, do conselho da Salesforce Foundation na quinta-feira (16). Conway, doador histórico do Partido Democrata, afirmou em carta que já não reconhecia o Benioff que admirava.
Líderes democratas, como o prefeito Daniel Lurie e a deputada Nancy Pelosi, também reprovaram as declarações. Laurene Powell Jobs, viúva de Steve Jobs, escreveu no Wall Street Journal que doações em troca de influência sobre políticas públicas “não são generosidade”.
A mudança de tom de Benioff refletiu um movimento mais amplo de empresas de tecnologia em direção ao governo republicano, interessado em contratos e benefícios fiscais. Em setembro, Trump reuniu nomes como Mark Zuckerberg (Meta), Tim Cook (Apple), Sam Altman (OpenAI) e Sundar Pichai (Google) em jantar na Casa Branca.
Mesmo sob pressão — as ações da Salesforce acumulam queda de 27% desde janeiro — o evento serviu para a companhia anunciar integração de ferramentas de inteligência artificial a seus sistemas de gestão e destacar a imagem filantrópica de Benioff. Ele e a esposa, Lynne, prometeram US$ 100 milhões ao UCSF Benioff Children’s Hospitals e US$ 39 milhões a escolas públicas e projetos infantis. A empresa estima que o encontro gerou US$ 130 milhões em receitas e 35 mil empregos locais.
Imagem: redir.folha.com.br
No mesmo período, reportagem do New York Times revelou que a Salesforce apresentou sua tecnologia de inteligência artificial ao ICE, agência de imigração dos EUA, para auxiliar na contratação de 10 mil novos agentes. Ativistas distribuíram panfletos com rostos de imigrantes detidos durante o Dreamforce, criticando a iniciativa.
Benioff justificou o pedido de tropas alegando falta de policiamento. Embora os índices de crimes graves tenham caído nos últimos anos, a cidade ainda lida com furtos, vandalismo e consumo de drogas em vias públicas. “Esta é a maior convenção de São Francisco e provamos ano após ano como torná-la segura”, disse o executivo a jornalistas na terça-feira (14).
Para além da controvérsia, o CEO anunciou um aporte de US$ 15 bilhões ao longo de cinco anos em um hub de incubação de empresas de inteligência artificial na cidade.
O Dreamforce encerrou-se na quinta-feira (16) sob a sombra das declarações, que desviaram o foco dos anúncios de produtos e das conversas com líderes do setor, como Sundar Pichai, Dario Amodei (Anthropic) e o ministro saudita das Comunicações, Abdullah Alswaha.