São Paulo – A recuperação judicial da Ambipar, empresa de gestão ambiental, ganhou novos contornos com a revelação de detalhes sobre contratos de swap cambial firmados com o Deutsche Bank, apontados pela companhia como fator decisivo para o agravamento de sua crise de caixa.
No pedido de reestruturação de dívidas protocolado na Justiça, a Ambipar apresenta uma linha do tempo que começa na migração de parte de suas operações financeiras do Bank of America para o Deutsche Bank. Segundo a empresa, alterações contratuais feitas nesse período coincidiram com a queda do preço de seus bonds verdes — títulos de dívida atrelados a metas de sustentabilidade emitidos no exterior —, movimento que levou o banco alemão a exigir aportes que consumiram quase R$ 200 milhões em curto prazo.
A discussão gira em torno de quatro contratos de swap cambial: três vinculados a uma emissão de US$ 550 milhões e um a outra de US$ 493 milhões. Nessas operações, a Ambipar, exposta ao real, trocava variação cambial com o Deutsche Bank, posicionado em dólar. A cláusula padrão previa depósitos periódicos de margem de garantia pela parte prejudicada com a oscilação da moeda.
A companhia afirma que um aditamento introduziu a possibilidade de o banco usar os próprios bonds verdes da Ambipar como pagamento caso a variação cambial fosse desfavorável para o Deutsche Bank. Com a desvalorização desses títulos, a regra teria passado a beneficiar o credor.
Fontes próximas à operação relatam que, quando o dólar recuou abaixo de R$ 5,35, os swaps tornaram-se vantajosos para a Ambipar, que se manteve adimplente. Nesse momento, o Deutsche Bank teria proposto encerrar a posição, oferecendo R$ 50 milhões em devolução de margem de garantia – proposta rejeitada pela companhia.
Posteriormente, já com os bonds em baixa, o banco passou a cobrar um novo aporte de R$ 60 milhões. A Ambipar incluiu no processo de tutela cautelar a informação de que, sem esse depósito, o Deutsche Bank ameaçou antecipar o vencimento de todas as dívidas, o que poderia acionar cláusulas de vencimento cruzado em outros contratos e abrir um rombo estimado em R$ 10 bilhões.
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No mesmo pedido judicial, a Ambipar atribui ao ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda, que deixou a empresa dias antes da crise vir à tona, a articulação dos aditamentos junto ao Deutsche Bank. Tanto o banco quanto a defesa do executivo decidiram não se pronunciar.
A Ambipar também preferiu não comentar o conteúdo das alegações apresentadas à Justiça.
Com reportagem de Luany Galdeano