David Ripley, presidente-executivo da exchange de criptomoedas Kraken, contestou publicamente declarações de Brooke Ybarra, vice-presidente sênior de inovação e estratégia da American Bankers Association (ABA). Em apresentação na convenção anual da entidade, Ybarra afirmou que o pagamento de juros por stablecoins de uso estritamente voltado a pagamentos prejudicaria a capacidade dos bancos de atender às suas comunidades.
“Prejudicial para quem?”, reagiu Ripley, acrescentando que os consumidores “devem ter liberdade para escolher onde manter valor e qual a forma mais eficiente de transferi-lo”. Segundo ele, as instituições tradicionais recebem tarifas sobre os recursos dos clientes sem repassar ganhos correspondentes, enquanto o setor cripto busca “tornar serviços antes restritos aos mais ricos acessíveis a todos”.
Integrantes da indústria cripto reforçaram o posicionamento do executivo da Kraken. Dan Spuller, responsável por assuntos institucionais da Blockchain Association, declarou que “grandes bancos estão tentando proteger seu território” ao mirar empresas como Kraken e Coinbase. Para o desenvolvedor da Solana conhecido como Voss, “a concorrência deve ser bem-vinda; vivemos em um mundo capitalista”.
Algumas plataformas de ativos digitais oferecem até 5% ao ano em depósitos de stablecoins — percentual bem acima da média nacional de poupança nos Estados Unidos, de 0,6%, e superior até mesmo às contas de alta rentabilidade mais competitivas, que alcançam 4%, de acordo com dados do Bankrate.
O embate ocorre poucos meses depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionar o Genius Act, marco regulatório que estabelece regras abrangentes para stablecoins e sinaliza sua possível adoção em larga escala.
Imagem: Trader Iniciante 2 (16)
Em junho, Diogo Mónica, sócio da Haun Ventures, afirmou que certas stablecoins podem ser mais seguras do que depósitos em bancos comerciais, pois costumam ter lastro em aplicações consideradas de baixo risco, como títulos do Tesouro norte-americano de curto prazo ou reservas guardadas em instituições financeiras de importância sistêmica global.
O confronto entre finanças tradicionais e o setor de criptoativos não se limita ao mercado norte-americano. Pesquisa recente da Binance Australia apontou que usuários locais continuam enfrentando barreiras bancárias ao operar em corretoras de criptomoedas. Para Matt Poblocki, gerente-geral da Binance na Austrália e Nova Zelândia, o acesso fluido a serviços financeiros é decisivo para engajamento, confiança e crescimento do mercado.
Até o momento, nem a ABA nem os bancos citados anunciaram medidas concretas para limitar o pagamento de juros por stablecoins, mas o debate evidencia a disputa por espaço entre instituições tradicionais e plataformas de ativos digitais.