Explicar a utilidade do consórcio, de imóveis a procedimentos como fertilização in vitro, é o maior obstáculo do setor, afirma Tatiana Schuchovsky Reichmann, 48, presidente da administradora de consórcios Ademicon. A empresa, fundada em 1991 em Curitiba, planeja encerrar 2025 com R$ 45 bilhões em créditos comercializados, alta de 65% sobre 2024.
No ranking nacional, a companhia tornou-se em setembro a quarta maior administradora, superando o Itaú em volume de ativos. A carteira da curitibana somou R$ 77,3 bilhões, contra R$ 76,7 bilhões do banco. Entre as independentes (não ligadas a bancos ou montadoras), é a líder do mercado.
Dados da Abac (Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios) mostram crescimento de 35% no valor de créditos vendidos entre janeiro e outubro de 2025, totalizando R$ 423 bilhões. No mesmo período, R$ 101,8 bilhões foram liberados a quase 1,5 milhão de clientes contemplados. O país contava com 12,4 milhões de participantes em outubro, 11% a mais que um ano antes.
Com a taxa Selic em 15%, consumidores buscam prestações sem juros e concorrência mensal por cartas de crédito. Caso não sejam contemplados, recebem o valor corrigido ao fim do grupo, que pode durar de um a 20 anos. Lances entre 10% e 50% do valor da carta, além do uso de FGTS, podem antecipar a contemplação.
Para ampliar a compreensão sobre o produto, a Ademicon quase dobrará o orçamento de marketing em 2026, alcançando R$ 140 milhões – 40% acima do aplicado em 2025. A companhia mantém ações como o patrocínio ao Big Brother Brasil (pelo quinto ano), ao Rio Open (segundo ano) e ao surfista Yago Dora. Desde 2023, estampa a camisa do São Paulo Futebol Clube, acordo previsto até 2030, e também apoia Coritiba, Athletico Paranaense e a equipe feminina do Palmeiras. Em 2025, marcou presença na festa de São João de Caruaru (PE).
“Sou uma CEO marqueteira”, resume Tatiana, que começou na empresa aos 19 anos, quando o pai adquiriu 100% da então Ademilar. Hoje, a administradora possui 278 unidades em 24 estados e no Distrito Federal, além de lojas em Miami e Orlando. São 450 funcionários diretos e 8 mil consultores de vendas.
O consórcio de imóveis representa 70% das vendas da Ademicon; veículos e serviços respondem pelos 30% restantes. Planejadoras financeiras veem na modalidade um custo menor que financiamento, mas alertam para a espera até a contemplação. Para Myrian Lund, da Planejar, o consórcio “não é investimento, e sim disciplina para quem tem dificuldade de poupar”. Nayra Sombra, também da Planejar, reforça que a alternativa exige paciência.
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A companhia desenvolveu a assistente virtual Clara, baseada em inteligência artificial, e lançou a plataforma de treinamento Bumerangue, apresentada como o primeiro streaming de consórcio e educação financeira do país. O modelo de lojas licenciadas, criado por Tatiana, sustenta a expansão física e digital.
Desde 2022, 30% do capital pertence às gestoras 23S Capital e Treecorp. A família Schuchovsky mantém o controle e não descarta abrir capital no futuro. O filho mais velho da executiva, Germano, 18, atua como trainee e o caçula, Ernesto, 16, já participa de reuniões.
• Crédito comercializado: R$ 27,3 bilhões
• Receita líquida: R$ 930,7 milhões
Principais concorrentes: Banco do Brasil, Bradesco, Porto Seguro e Itaú Administradora.
Para 2026, a meta da Ademicon é consolidar a presença nacional, expandir parcerias para produtos exclusivos – como o Consórcio Coxa, em parceria com o Coritiba, e o Consórcio do Peixe, com o Santos – e reforçar o uso de tecnologia para aproximar o consumidor da modalidade.