Alimentos, serviços e gastos públicos devem calibrar inflação de 2026, apontam projeções

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A inflação deve continuar cedendo em 2026, mas ainda acima do centro da meta de 3%, segundo projeções de bancos, consultorias e instituições de pesquisa. O Boletim Focus reduziu a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pela quarta semana seguida, chegando a 4,10%. XP Investimentos e Itaú Unibanco veem IPCA de 4,2%, o Bank of America (BofA) calcula 4%, enquanto a Fundação Getulio Vargas (FGV) trabalha com 4,6%.

Alimentos perdem efeito benigno de 2025

Analistas avaliam que o alívio observado nas prateleiras em 2025, favorecido por safras recordes e câmbio, não deve se repetir integralmente no próximo ano. A XP projeta alta de 4,5% nos preços de alimentação no domicílio em 2026, ante 1,5% neste ano. O Itaú estima avanço ainda maior para o grupo alimentação, de 5,1%, contra 2,7% projetados para 2025, puxado por proteínas e possíveis impactos do fenômeno El Niño sobre itens in natura.

Serviços seguem pressionados pelo emprego aquecido

O mercado de trabalho perto do pleno emprego mantém serviços como foco de preocupação. A XP calcula inflação de 5,3% para o segmento em 2026 e vê espaço limitado para desinflação adicional. O Itaú é mais cauteloso e projeta 5,5%, lembrando que a queda do IPCA em 2025 contou com forte contribuição de alimentos e câmbio, fatores que não se repetem com a mesma intensidade.

Indústria e administrados podem aliviar o índice

Para bens industriais, o Itaú espera variação de 1,4% em 2026, atribuída a estoques elevados e câmbio médio de R$ 5,40. A XP trabalha com 2,6%. Nos preços administrados, a corretora parte da premissa de bandeira tarifária amarela no fim de 2026 e projeta 3,8%, enquanto o banco prevê 4,2%.

Selic ainda elevada, mas em trajetória de queda

Especialistas avaliam que a política monetária continuará restritiva, embora com cortes graduais na taxa básica de juros. Para David Beker, chefe de economia para Brasil e estratégia na América Latina do BofA, o dólar globalmente fraco e o barateamento de manufaturados chineses favorecem a desinflação, mas o mercado de trabalho doméstico contrapõe esse movimento.

Risco fiscal ganha destaque

O avanço dos gastos públicos aparece como variável-chave para o comportamento dos preços. Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, projeta aumento de despesas em 2026, incluindo reajuste real de 2,5% no salário mínimo acima da inflação, ampliação de programas sociais e isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Segundo ela, esse impulso pode ampliar pressões inflacionárias.

Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e ex-presidente do Cade, alerta para o efeito de um endividamento próximo de 100% do PIB sobre a confiança dos agentes econômicos. Para ele, dúvidas sobre a capacidade de pagamento do Estado tendem a elevar o dólar e, consequentemente, a inflação.

A XP também chama atenção para o risco de “dominância fiscal” caso reformas que equilibrem as contas públicas não avancem.

Apesar das projeções de IPCA abaixo do resultado previsto para 2025, o cenário de 2026 dependerá da combinação entre comportamento dos alimentos, persistência da alta em serviços e sinalização de equilíbrio das contas governamentais.

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