A Amazon prepara uma mudança de grande escala em suas unidades nos Estados Unidos. Documentos internos e declarações de executivos indicam que a companhia pretende substituir mais de 500 mil postos de trabalho por sistemas robóticos e, ao mesmo tempo, impedir a contratação de cerca de 160 mil funcionários até 2027 — número que, segundo os papéis, seria exigido caso a operação seguisse o ritmo atual.
Reveladas em reuniões com o conselho no ano passado, as metas preveem manter o quadro de pessoal norte-americano próximo dos níveis atuais, ainda que a expectativa seja dobrar o volume de produtos comercializados até 2033. Hoje, a empresa emprega quase 1,2 milhão de pessoas no país, triplo do total registrado em 2018.
A equipe de robótica da gigante do comércio eletrônico trabalha para automatizar 75% dos processos, distribuídos em seis etapas: movimentação, manipulação, triagem, armazenamento, identificação e empacotamento. Desde a compra da fabricante de robôs Kiva, em 2012, a Amazon vem ampliando esse esforço.
Nos centros de distribuição mais recentes, como o de Shreveport (Louisiana), os funcionários tocam nos produtos apenas em poucas fases. Após serem retirados das caixas, itens passam pelo braço mecânico Sparrow, que os transfere para recipientes. Em seguida, o braço Robin coloca as embalagens em robôs Pegasus, responsáveis por levar a carga até os dutos corretos. Abaixo, outro robô, o Cardinal, empilha as caixas, enquanto veículos autônomos Proteus transportam carrinhos às docas de envio.
Para evitar resistência interna ou externa, os documentos recomendam substituir termos como “automação” e “inteligência artificial” por expressões como “tecnologia avançada” e trocar “robô” por “cobot”, reforçando a ideia de parceria entre máquinas e pessoas.
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A principal alteração recente ocorreu no armazenamento. O sistema Sequoia trocou as tradicionais torres de nichos de tecido por caixas plásticas que se movimentam automaticamente em estruturas metálicas. Câmeras identificam o conteúdo e braços equipados com ventosas fazem a separação. “A mudança simplifica o trabalho e aumenta eficiência e segurança”, afirmou Udit Madan, chefe de operações globais da empresa.
Daron Acemoglu, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2024, avalia que, caso o plano se concretize, a Amazon “deixará de ser criadora líquida de vagas para se tornar destruidora líquida de empregos”.
A empresa, contudo, contesta que os documentos reflitam toda a estratégia de RH. A porta-voz Kelly Nantel lembrou que a companhia pretende contratar 250 mil pessoas para a temporada de fim de ano. “Ter eficiência em uma parte do negócio não conta toda a história sobre o impacto total”, completou Madan.