A economista Ana Paula Vescovi, chefe do Santander Brasil e atualmente estudante da Wharton School, afirmou que a inteligência artificial (IA) já faz parte do dia a dia das grandes corporações, mas alertou para a falta de métricas que comprovem os benefícios da tecnologia.
Segundo levantamento da consultoria McKinsey citado por Vescovi, 78% das organizações globais utilizam IA em pelo menos uma área de negócio. Os setores de tecnologia, telecomunicações, finanças e varejo lideram a adoção, com índices ativos entre 30% e 40%, além de testes de projetos-piloto. Apesar do avanço, executivos ouvidos pela professora de marketing Stefano Puntoni admitiram quase não monitorar o retorno sobre investimentos em ferramentas de IA generativa.
Para Vescovi, as empresas enfrentarão dois caminhos: usar a tecnologia para substituir mão de obra, obtendo ganhos rápidos, ou para ampliar a capacidade dos profissionais, criando inovação duradoura. Ela lembra que o economista Daron Acemoglu e o historiador Simon Johnson, autores de “Poder e Progresso”, ressaltam que a evolução tecnológica só gera prosperidade quando distribuída de forma equitativa; caso contrário, aprofunda desigualdades.
A economista alerta que a automação pode reduzir autonomia, enfraquecer o senso de competência e comprometer o sentimento de pertencimento — fatores que a psicologia do trabalho considera essenciais para produtividade. Estudos conduzidos por Puntoni indicam que funcionários avaliados por algoritmos demonstram menor empatia e disposição para ajudar colegas, enquanto consumidores valorizam mais produtos com participação humana.
O professor Christian Terwiesch, também da Wharton, defende que a IA generativa possibilita “torneios de inovação”, nos quais mais pessoas podem criar, testar e propor soluções com o apoio de algoritmos. Nesse modelo, o papel humano se torna curatorial: orientar, selecionar e atribuir significado às ideias produzidas pela máquina.
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Vescovi destaca que políticas públicas, incentivos de mercado e regulamentação serão decisivos para determinar se a IA promoverá inclusão ou concentração de poder. Caso apenas ganhos de produtividade imediata sejam recompensados, a substituição de trabalhadores tende a avançar. Se, ao contrário, empresas forem estimuladas a investir em pessoas e difundir conhecimento, a tecnologia poderá impulsionar crescimento compartilhado.
Para a economista, alinhar progresso técnico a desenvolvimento social exigirá transição justa, programas de requalificação e métricas que valorizem a criação de valor humano. O equilíbrio entre eficiência da máquina e discernimento humano, defende, será o fator-chave para competitividade na nova era digital.