Brasília – O economista Arminio Fraga afirmou que a ampliação da abertura comercial brasileira pode ser o caminho para destravar as negociações com os Estados Unidos depois do pacote de tarifas anunciado pelo presidente Donald Trump. “Não negociar é prejuízo para nós. Defendi a abertura unilateral e continuo a defender”, disse o ex-presidente do Banco Central em entrevista ao boletim C-Level Plano Brasília.
Para Fraga, a abertura unilateral envolve reduzir tarifas de importação e outros instrumentos de proteção. “O Brasil ainda carrega um ranço protecionista enorme, que não se resume às tarifas”, observou o sócio da Gávea Investimentos.
O economista avaliou que o recente endurecimento comercial de Washington representa “uma mudança radical” na relação bilateral. Segundo ele, o governo brasileiro tampouco se esforçou para se aproximar de Trump, o que contribuiu para o clima atual. “O que está acontecendo é desconcertante; é uma invasão”, declarou.
Fraga afirmou que a lista de exceções divulgada pelos EUA oferece algum alívio, mas considera incerto o rumo das conversas, já que o estilo do presidente americano foge ao padrão diplomático. “Acho que o Brasil faz bem em deixar passar um pouco de tempo e tentar abrir os canais”, disse, lembrando que outros países adotam estratégia semelhante.
Na avaliação do ex-presidente do BC, os Brics não devem ajudar nesse contexto porque os interesses dos membros divergem demais, e a proposta de uma moeda comum “não faz sentido”.
Fraga comentou ainda o primeiro encontro entre o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O economista trabalhou com Bessent no fundo de George Soros nos anos 1990 e acredita que a experiência do norte-americano em mercados financeiros pode favorecer o diálogo.
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Ele defendeu incluir o tema das terras raras na pauta bilateral, sobretudo diante do combate às mudanças climáticas. “Isso é muito mais importante do que tentar furar petróleo na Foz do Amazonas”, afirmou.
Fraga revelou ter sido procurado recentemente pela Secretaria de Reformas Econômicas para atuar como “canal” entre os dois governos. “Mesmo quando países não se entendem, é bom manter alguma via de comunicação”, relatou.
Com informações de Folha de S.Paulo