A ata da reunião de julho do Federal Reserve, divulgada nesta quarta-feira (21), mostra que o temor de uma alta de preços decorrente das tarifas sobre importações foi considerado mais relevante do que os riscos ao emprego na hora de definir a política de juros.
Na ocasião, o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) decidiu, por 9 votos a 2, manter a taxa básica dos Fed Funds entre 4,25% e 4,50% pela quinta reunião consecutiva. Os governadores Michelle Bowman e Christopher Waller foram voto vencido ao defender corte de 0,25 ponto percentual, marcando a primeira dupla dissidência a favor de redução de juros desde 1993.
Conforme o documento, a maioria dos participantes avaliou que “o risco de alta para a inflação” superava “o risco de baixa para o emprego”. Vários integrantes consideraram os dois riscos equilibrados, enquanto poucos julgaram o mercado de trabalho como a preocupação principal.
Muitos dirigentes observaram que a inflação segue acima da meta de 2% no longo prazo. Eles destacaram aceleração recente nos preços de bens, apesar da desaceleração nos serviços. Alguns argumentaram que os efeitos das tarifas estão mascarando a tendência subjacente de preços e que, sem esse fator, a inflação estaria próxima do objetivo.
A maioria espera um avanço dos índices de preços no curto prazo, mas reconhece “considerável incerteza” sobre o momento, intensidade e duração do impacto das tarifas implementadas este ano. Segundo a ata, o repasse aos consumidores pode demorar devido a acúmulo de estoques antes da cobrança, repasse gradual de custos, atualização lenta de contratos, preservação de relações com clientes, questões administrativas de cobrança e negociações comerciais ainda em andamento.
A reunião ocorreu antes da divulgação do relatório de empregos de julho, que mostrou criação de 73 mil vagas, abaixo da projeção de 110 mil, além de revisões negativas de 258 mil postos em maio e junho. Esses números, somados aos dados que ainda serão divulgados, servirão de base para a próxima decisão do FOMC, marcada para 16 e 17 de setembro, quando o mercado aposta em corte de 0,25 ponto percentual.
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O presidente Donald Trump voltou a criticar o presidente do Fed, Jerome Powell, pela manutenção dos juros.
Para Eric Teal, diretor de investimentos da Comerica Wealth Management, a inflação continua na “linha de frente” das preocupações, pois a alíquota efetiva média das tarifas sobre importações subiu de 11% em julho para cerca de 16% em agosto, afetando principalmente o consumidor final. Ele avalia que o mercado de trabalho segue uma incógnita, já que indicadores de alta frequência ainda não confirmam a fraqueza sugerida pelo relatório de julho.
Ryan Sweet, economista-chefe para EUA da Oxford Economics, ressalta que os integrantes do Fed enxergam riscos em ambas as direções do mandato duplo — inflação e emprego —, mas a maior parte os considera relativamente equilibrados, com alguns dando mais peso à possível deterioração do mercado de trabalho.