São Paulo – O empresário Joesley Batista reativou nos últimos dias o diálogo que mantém com o governo de Nicolás Maduro para aliviar atritos entre Caracas e Washington, segundo a agência Bloomberg. A aproximação é o capítulo mais recente de uma relação que se intensificou na década passada e envolve venda de alimentos, projetos em petróleo, críticas nos Estados Unidos e negociações de energia.
• Em 2014, a JBS fechou acordo de US$ 1,2 bilhão para entregar produtos alimentícios ao governo venezuelano, então pressionado pela escassez nas prateleiras. O pagamento foi feito em 90 dias, condição considerada rara diante da inadimplência recorrente do regime.
• Na mesma época, a holding J&F assinou memorando de entendimento com a PDVSA para explorar petróleo na faixa do Orinoco.
• Em 2015, Diosdado Cabello, figura de destaque do chavismo e então presidente da Assembleia Nacional, passou quatro dias no Brasil. O itinerário incluiu fábricas da JBS em Amparo e Lins (SP), a Eldorado Celulose em Três Lagoas (MS), um jantar com Joesley Batista e encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Instituto Lula.
• Após a viagem, a JBS acertou contrato de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne bovina e frango ao país, volume que chegou a representar quase 10% das exportações da companhia naquele período. A operação resultou em cerca de metade da carne e um quarto do frango consumidos na Venezuela.
• A companhia brasileira também mantém vínculos com o conglomerado local JHS, comandado por Jorge Alfredo Silva Cardona, conhecido no país pela aquisição do clube Deportivo Táchira.
• Meses após a visita de Cabello, uma empresa da JHS assinou contrato para embalar produtos da JBS. Fontes locais relatam que a sede da JHS em Caracas exibia o logotipo da JBS, e Cardona chegou a se apresentar no LinkedIn como representante comercial da companhia no país.
Imagem: redir.folha.com.br
• Em 2019, senadores norte-americanos, entre eles Marco Rubio e Bob Menendez, pediram ao Departamento do Tesouro que examinasse os negócios da JBS, citando ligações com o governo Maduro e investigações de corrupção no Brasil.
• A solicitação foi repetida em 2021, mas não resultou em sanções. À época, a empresa declarou ter colaborado de forma transparente com autoridades dos EUA.
• No ano passado, a Folha revelou que a J&F contratou João Carlos Mariz Nogueira, delator da Odebrecht, para desenvolver novos negócios. Entre março e maio, ele participou de encontros no Itamaraty sobre investimentos na Venezuela e em outros países latino-americanos.
• Além de proteínas, a J&F busca oportunidades em óleo, gás e energia por meio da Fluxus. Já a Âmbar Energia, braço elétrico do grupo, recebeu aval do governo brasileiro para importar eletricidade da usina de Guri, na Venezuela, para abastecer Roraima.
A JBS foi procurada, mas não se manifestou.