São Paulo – O Banco do Brasil (BB) apresentou, nesta sexta-feira (15), um pacote de medidas para tentar restabelecer a rentabilidade até o fim de 2025, um dia depois de informar queda de 60% no lucro do segundo trimestre, para R$ 3,8 bilhões.
A principal mudança de rota envolve os 808 clientes do agronegócio que recorreram à recuperação judicial e impactaram o balanço da instituição. O vice-presidente de Gestão Financeira, Marco Geovanne Tobias da Silva, afirmou que o banco passou a atuar de forma “mais proativa” na cobrança, inclusive por meio de ações judiciais.
O BB financia cerca de 50% do crédito rural no país e ficou mais exposto após a seca de 2023 e as enchentes no Sul em 2024. Hoje, 20 mil clientes do setor têm prestações em atraso há mais de 90 dias, dentro de um universo de 1 milhão. Entre esses devedores, 74% jamais haviam atrasado pagamentos antes de 2023.
Grande parte dos produtores em recuperação judicial é formada por grandes agricultores pessoa física, atendidos pela divisão de private banking. Segundo a presidente do banco, Tarciana Medeiros, parte desses pedidos teria sido motivada por “má orientação de escritórios de advocacia”, contra os quais o BB estuda ingressar com processos.
A executiva informou que a instituição firmou acordo de cooperação com a Advocacia-Geral da União (AGU) e acionou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para combater a chamada “advocacia predatória”.
A direção do BB também defende revisão da resolução 4.966 do Banco Central, que elevou em R$ 6 bilhões o volume de provisões ao trocar a metodologia de “perdas incorridas” para “perdas esperadas”. Para o banco, a norma não considera a característica dos financiamentos rurais, cujo ciclo médio é de 36 meses.
Após a divulgação da nova estratégia, as ações do BB subiam cerca de 1% às 13h26. Para preservar capital, o payout — percentual do lucro distribuído aos acionistas — foi reduzido de 40%-45% para 30%. O diretor financeiro indicou a possibilidade de dividendos extraordinários em 2026, caso ocorra a recuperação esperada com a safra recorde projetada.
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O banco estimou efeito limitado do aumento de tarifas norte-americanas, anunciado pelo governo Donald Trump, sobre sua carteira: entre 0,2% e 0,3%, algo em torno de R$ 3 bilhões. A instituição participará da distribuição de recursos do programa federal Brasil Soberano, voltado a empresas afetadas.
Outra frente será a ampliação de crédito para consumidores, segmento considerado de maior margem. Mesmo com a deterioração dos números, Tarciana Medeiros disse não sentir pressão política para deixar o cargo e relatou que ataques homofóbicos recebidos nas redes sociais “não a abalam”.
Fundação: 1808
Lucro líquido: R$ 3,8 bilhões
Agências: 3.997
Empregados: 85.959
Principais concorrentes: Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Nubank e Caixa Econômica Federal
Com a revisão de estratégias e a intensificação da cobrança no agronegócio, o Banco do Brasil busca recompor resultados ainda em 2025.