O tradicional almoço de fim de ano da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), realizado no Hotel Unique, em São Paulo, foi tomado por críticas à crise que levou à liquidação do Banco Master na semana passada.
Em conversas reservadas, presidentes das maiores instituições financeiras do país afirmaram estar indignados com o crescimento do Master, que chegou a captar bilhões de reais de pessoas físicas e fundos de pensão, e defenderam mudanças regulatórias para evitar episódios semelhantes.
Parte da revolta se deve ao rombo superior a R$ 40 bilhões que será arcado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Criado nos anos 1990, o fundo devolverá até R$ 250 mil por investidor aos depositantes do Master.
Todos os bancos contribuem com 2,5% do valor dos títulos cobertos que emitem, o que faz dos grandes bancos os principais financiadores do FGC. Embora o resgate de clientes do Master deva reduzir cerca de um terço da liquidez do fundo, executivos ouvidos no evento disseram não ver necessidade de aportes extras por enquanto. A decisão final caberá ao Banco Central (BC).
Dirigentes das instituições e do próprio FGC defendem mudanças que impeçam bancos altamente alavancados de se apoiarem na venda de CDBs com remuneração elevada usando a garantia do fundo como argumento de segurança. O presidente do FGC, Daniel Lima, afirmou que a indústria discutirá formas de recompor a liquidez e estudará alterações na regulação, alertando para a necessidade de análises aprofundadas.
Outro tema presente nas conversas foi o Banco de Brasília (BRB), que adquiriu carteiras do Master. Investigação citada pelos banqueiros aponta que parte desses ativos de crédito consignado teria sido forjada, somando R$ 12,2 bilhões — mais de 20% da carteira de crédito do banco do Distrito Federal. A instituição pública nega problemas e garante que suas carteiras seguem padrão adequado.
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Sem citar nomes, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, pediu “rigor e ética” no sistema financeiro e declarou que “o novo nome da competição saudável se chama solidez e integridade”. Ele também elogiou o trabalho do presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Galípolo, presente à mesma mesa que o ministro interino da Fazenda, Dario Durigan, afirmou que o BC “seguiu o gabarito” na condução do caso e que os “riscos de cauda” diminuíram significativamente perto do fim do ano. O economista voltou a defender mais recursos e um arcabouço legal claro para a autarquia.
Nos bastidores, executivos também discutiram a atuação de corretoras que distribuíram títulos do Master oferecendo comissões acima da média a assessores de investimento. Atualmente, a responsabilidade desses distribuidores é limitada, algo que parte do setor deseja rever.
Para os banqueiros, a combinação de regras defasadas e diligência insuficiente dos órgãos de supervisão permitiu que um banco ainda pequeno se tornasse um problema bilionário para todo o sistema financeiro.