A BYD pediu à Câmara de Comércio Exterior (Camex) autorização para importar veículos num valor anual que ultrapassa US$ 2 bilhões (aproximadamente R$ 11,2 bilhões) caso não seja aprovada, nesta quarta-feira (30), uma alíquota de 10% sobre carros semidesmontados (SKD).
O montante pretendido é mais que o dobro do investimento anunciado pela montadora na fábrica de Camaçari (BA), orçado em R$ 5,5 bilhões, e corresponde a 59% dos recursos previstos para cinco anos do programa federal Mover, de incentivo a veículos menos poluentes.
Integrantes da Camex avaliam que o pedido não deve prosperar. Em alternativa, será colocado em votação um teto de US$ 1 bilhão ou outro valor “bem inferior”, a ser definido durante a reunião do colegiado.
A maioria dos representantes do órgão se mostra contrária à reivindicação por temer uma onda de ações judiciais no setor automotivo. Essa correlação de forças, porém, pode mudar se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intervir em favor da BYD, sobretudo após o aumento de tarifas anunciado pelos Estados Unidos para veículos chineses.
A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) argumenta que suas afiliadas já realizam a produção completa no país e que uma alíquota reduzida para a BYD abriria caminho para modelos semelhantes de outras montadoras, ameaçando empregos e investimentos locais.
Se a Camex aprovar a tarifa de 10%, empresas ligadas à entidade cogitam acionar a Justiça. Elas também enxergam a cota como um mecanismo que permitiria à BYD despejar no Brasil unidades não vendidas na China.
O vice-presidente sênior da companhia, Alexandre Baldy, afirma que já foram aplicados R$ 2 bilhões dos R$ 5,5 bilhões previstos para Camaçari e que há acordo com o governo da Bahia para alcançar 70% de conteúdo nacional nos veículos até 2028. Segundo ele, todas as fabricantes que ingressaram no mercado brasileiro iniciaram com regime de montagem antes de atingir altos índices de nacionalização.
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Baldy classificou a reação dos concorrentes como “tapa na cara dos brasileiros”, alegando que “barões estrangeiros” querem manter carros caros e de baixa qualidade no país. O executivo nega ter feito solicitação com base em valores financeiros e diz que o contrato menciona somente volume de produção.
Fontes do Executivo afirmam que a alíquota de 10% para SKD foi rejeitada porque permitiria à BYD prorrogar as importações, retardando a fabricação local. Como contraponto, citam o projeto da também chinesa GWM, que estreou no mercado brasileiro com veículos completamente desmontados (CKD) e índice de 40% de componentes nacionais.
A montadora sustenta que a redução tarifária valeria apenas até julho de 2026, prazo previsto para a próxima etapa da planta baiana, que incluirá linhas de pintura e solda, gerando mais empregos e demanda por insumos locais.
Com informações de Folha de S.Paulo