Canadá e Mercosul intensificaram as negociações para fechar um tratado de livre comércio até dezembro de 2026, após retomarem as conversas em outubro deste ano.
O impulso para o avanço veio do aumento do protecionismo dos Estados Unidos, que aplicou tarifas severas a parceiros tradicionais, entre eles Canadá e Brasil. Em 2025, Washington chegou a impor imposto de importação de 50% a produtos brasileiros, medida posteriormente retirada de diversos itens alimentícios.
“Trabalhamos ativamente para concluir essas negociações no próximo ano”, afirmou o ministro do Comércio Internacional do Canadá, Maninder Sidhu, durante visita a Brasília em agosto. Outros dois representantes dos países envolvidos confirmaram o objetivo.
O diálogo com o bloco sul-americano — integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com a Bolívia em processo de adesão plena — começou em 2018, mas foi suspenso três anos depois por causa da pandemia de Covid-19. A reabertura das conversas, em outubro, deu início a uma sequência de reuniões virtuais quase diárias, além da formação de grupos de trabalho para temas como tarifas, pequenas e médias empresas e antidumping. Encontros presenciais estão previstos para o início de 2026.
O acordo pretende eliminar tarifas na maioria dos bens comercializados. Entretanto, especialistas veem desafios, já que Canadá e Mercosul concorrem em diversos produtos primários nos mercados globais, como soja, petróleo, minério de ferro e carne bovina.
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Em 2024, o comércio bilateral de mercadorias entre Brasil e Canadá somou US$ 12,7 bilhões, o maior volume dentro do bloco sul-americano, mas ainda distante dos mais de US$ 760 bilhões trocados entre Canadá e Estados Unidos.
A estratégia canadense de diversificar parceiros comerciais ganhou força após tarifas aplicadas por Washington a setores integrados da economia norte-americana, como madeira serrada, aço, alumínio e automóveis. Paralelamente, o Mercosul tenta concluir seu aguardado acordo com a União Europeia, adiado em dezembro depois de protestos de agricultores europeus. Bruxelas espera finalizar o tratado em janeiro.
Um dos negociadores ouvidos sob condição de anonimato resumiu a urgência: “A prioridade é alcançar algo viável rapidamente; não precisa ser abrangente”.