TÍTULO: Cancelamento de quase 60 projetos trava avanço do hidrogênio de baixo carbono
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Quase 60 empreendimentos de hidrogênio de baixo carbono foram cancelados ou colocados em espera em 2025, entre eles iniciativas de BP e ExxonMobil, apontam dados da S&P Global. Juntas, as plantas suspensas somariam 4,9 milhões de toneladas anuais de produção de hidrogênio limpo, mais de quatro vezes a capacidade instalada no mundo.
A disparada de custos, a incerteza regulatória e a falta de compradores estão no centro dos adiamentos. Na semana passada, a BP deixou de lado projetos em Omã e em Teesside, no nordeste da Inglaterra, após já ter abandonado, no início do ano, uma planta de hidrogênio verde na Austrália. Em novembro, a Exxon suspendeu a construção de uma instalação no Texas que seria uma das maiores do planeta.
Outros grupos também recuaram. Equinor, ArcelorMittal e Vattenfall cancelaram ou adiaram plantas nos últimos 18 meses, enquanto a Shell encerrou um plano na Noruega.
O hidrogênio verde, produzido por eletrólise com energia renovável, e o azul, obtido a partir de gás com captura de carbono, continuam mais caros que o hidrogênio cinza, derivado de combustíveis fósseis sem captura de emissões. A dificuldade em fechar contratos de fornecimento antecipado tem travado novos aportes.
“Foi um período difícil para quem tenta desenvolver projetos de hidrogênio limpo. A disposição de pagar qualquer prêmio verde praticamente sumiu”, afirmou Murray Douglas, chefe de pesquisas de hidrogênio da consultoria Wood Mackenzie.
A empresa mapeou mais de 300 iniciativas de baixo carbono canceladas, paralisadas ou inativas desde 2020, muitas delas consideradas especulativas.
Nos Estados Unidos, a indústria também sente a hostilidade do presidente Donald Trump a projetos de energia renovável, o que reduziu subsídios que vinham sendo prometidos pelo governo de Joe Biden. Na Europa, a implementação de políticas de apoio avança devagar.
Imagem: redir.folha.com.br
O hidrogênio de baixo carbono ganhou destaque em 2020 como alternativa para descarbonizar setores difíceis de eletrificar, como aviação e siderurgia. Até o fim de 2024, mais de 2.600 projetos haviam sido anunciados no planeta, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), que calcula ser necessário multiplicar por dez a produção até 2035 para cumprir metas de emissões líquidas zero. Apenas um quarto das iniciativas previstas para 2030 deve sair do papel até lá.
O Hydrogen Council, que reúne grandes grupos industriais e petroleiras como ExxonMobil, Aramco, Adani e Adnoc, contabiliza mais de US$ 110 bilhões comprometidos em cerca de 500 projetos. Para a diretora-executiva da entidade, Ivana Jemelkova, o setor atravessa uma “fase natural de maturação”, semelhante à vista nos estágios iniciais das indústrias de energia eólica, solar e de baterias.
Mesmo com eletricidade renovável barata, o hidrogênio verde pode custar o dobro do produzido a partir de gás sem captura de carbono, principalmente por causa das despesas com infraestrutura e logística. Em junho, a ArcelorMittal cancelou duas plantas verdes na Alemanha, apesar de € 1,3 bilhão em apoio público, alegando falta de viabilidade.
Problemas de armazenamento e transporte também pesaram para a Vattenfall, que abriu mão de um subsídio da União Europeia para um projeto de eletrólise nos Países Baixos após o atraso de um gasoduto pan-europeu.
De 2020 a 2024, o hidrogênio recebeu ao menos US$ 10 bilhões em financiamento público para pesquisa e desenvolvimento, segundo a AIE, mas a definição de regras de apoio continua incerta em muitos mercados.