Os homens brancos retomaram a liderança nas nomeações para conselhos de administração de companhias norte-americanas. Levantamento da ISS-Corporate mostra que, pela primeira vez desde 2017, eles formam a maioria dos novos diretores indicados este ano nas empresas do índice S&P 500.
Até 24 de setembro, 55% dos mais de 440 assentos preenchidos em conselhos do S&P 500 foram ocupados por homens brancos. Em paralelo, a participação feminina caiu para cerca de um terço das vagas, depois de ter atingido 44% em 2022. Já os diretores não brancos responderam por 20% das indicações, bem abaixo do pico de 44% registrado em 2021.
Diretores e recrutadores relatam que os conselhos priorizam, agora, candidatos com trajetória como presidentes-executivos para enfrentar a atual incerteza econômica e política, especialmente em relação às tarifas de importação. Como muitos desses executivos iniciaram a carreira décadas atrás, quando a alta liderança era menos diversa, o resultado tem sido a prevalência de homens brancos.
American Express, Keurig Dr Pepper, Molson Coors Beverage, Nike e United Parcel Service estão entre as companhias do S&P 500 que nomearam CEOs em atividade ou já aposentados para seus conselhos em 2025. O grupo de novos diretores inclui ex-chefes de Colgate-Palmolive, Brown-Forman, Hasbro e Sherwin Williams.
A prioridade dada à diversidade, equidade e inclusão (DEI) perdeu força, segundo recrutadores. Durante o governo Donald Trump, a oposição a políticas de DEI gerou um ambiente em que os conselhos se sentem menos pressionados a evitar a contratação de perfis semelhantes.
O recuo se reflete em decisões de mercado. Neste ano, por exemplo, o Goldman Sachs deixou de exigir que empresas candidatas a oferta pública inicial tivessem, obrigatoriamente, conselhos com diversidade de gênero e raça.
Ellen Zane, integrante de vários conselhos e membro do comitê de nomeação da Boston Scientific, observa que os conselhos se diversificaram mais rapidamente do que os cargos executivos. Hoje, mulheres representam cerca de 35% dos conselheiros do S&P 500, enquanto menos de 10% dos CEOs são do sexo feminino.
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James Drury, recrutador especializado, aponta mudança drástica de foco: 72% das empresas declaravam a diversidade como principal objetivo em 2020; na pesquisa mais recente, apenas 5% mantiveram essa prioridade.
Para Robert Travis, da consultoria Boyden, candidatos que há cinco anos seriam vistos como “ultrapassados” tornaram-se novamente competitivos. Jun Frank, da ISS-Corporate, avalia que o movimento indica estabilização — ou até reversão — das conquistas de diversidade.
A UPS exemplifica a tendência. Desde 2017, nove novos conselheiros foram nomeados, dos quais seis eram mulheres ou pessoas não brancas. Mesmo assim, em 2025 a empresa adicionou dois homens brancos com experiência como CEOs. Ao anunciar John Morikis, ex-dirigente da Sherwin-Williams, a companhia destacou sua “extensa experiência em liderar organização multinacional altamente complexa”.
Apesar da mudança no perfil das contratações, Anna Catalano, conselheira de HF Sinclair e Ecovyst, afirma que não há abandono completo da diversidade. Segundo ela, diante dos desafios atuais, as empresas se sentem “muito confortáveis” em recorrer a executivos que ocupam ou ocuparam recentemente a presidência.
Com os conselhos já compostos por mais de um terço de mulheres e 12% de diretores negros, especialistas acreditam que a pressão por maior representatividade diminuiu, permitindo a preferência renovada por líderes com experiência de comando — perfil que, na prática, segue sendo majoritariamente masculino e branco.