As taxas oferecidas pelos títulos do Tesouro IPCA+ vêm se distanciando de forma expressiva entre os prazos de vencimento, colocando o investidor diante de uma escolha delicada entre liquidez e previsibilidade, dizem analistas.
No dia 3 de fevereiro, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029 pagava juros reais de 7,47% ao ano, enquanto o papel para 2050, o mais longo da linha sem cupons semestrais, oferecia 7,43%. A diferença era de 4 pontos-base (pb). Já no fechamento de quarta-feira, 23 de fevereiro, o mesmo spread saltou para 83 pb.
Movimento semelhante ocorreu na família com juros semestrais: a distância entre as taxas do título mais curto e do mais longo passou de 12 pb em 3 de fevereiro para 25 pb no dia 23.
Segundo Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research, o mercado não vê inflação na meta no horizonte imediato, o que pressiona o Banco Central a manter a Selic elevada. Esse cenário leva investidores a exigir prêmios maiores nos vértices curtos.
Ao mesmo tempo, há uma “busca por duration” nos vencimentos longos. Fundos de pensão e estrangeiros preferem travar juros reais altos por períodos extensos para casar passivos, o que reduz a rentabilidade oferecida nesses papéis. A aproximação das eleições de 2026 também estimula gestores a vender vencimentos curtos mais líquidos e alongar o portfólio, acrescenta Almeida.
Ricardo Schweitzer, sócio da Garoa Wealth Management, avalia que a maior dispersão de taxas pode levar o aplicador a focar apenas no rendimento nominal. “É preciso ponderar os riscos de cada prazo”, afirma.
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Para Harrison Gonçalves, analista CFA, não há garantia de que taxas maiores no curto prazo representem melhor retorno absoluto; tudo depende do ambiente macroeconômico.
Jeff Patzlaff, planejador financeiro, lembra que ao optar por prazos curtos o investidor corre o risco de ter de reinvestir em um cenário possivelmente menos favorável. Já os papéis longos oferecem juro real travado por mais tempo, mas apresentam menor liquidez e maior sensibilidade à marcação a mercado.
“Definir o horizonte de investimento é fundamental”, reforça Almeida. Ele observa que, apesar das taxas menores, os vencimentos longos podem proteger contra o risco de reinvestimento e ainda gerar ganhos com a marcação a mercado.
Com informações de InfoMoney