Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) identificaram concentrações significativas de cobalto associadas a reservas de manganês em uma mina no interior do estado. O achado, considerado incomum, pode elevar o Brasil à condição de um dos principais produtores globais do metal, essencial na fabricação de baterias para veículos elétricos, equipamentos de defesa e aeronaves.
A equipe analisou amostras de rochas de cinco jazidas brasileiras — Ocara (CE), Conselheiro Lafaiete (MG), Serra do Navio (AP), Marabá (PA) e Parauapebas (PA) — e de três localidades africanas: República Democrática do Congo, Gabão e Gana. O maior teor foi medido no Ceará, alcançando 0,1% do minério de manganês, ou entre 800 e 1.000 partes por milhão (ppm). O índice médio de cobalto encontrado na natureza é cerca de 0,002%.
“É um valor elevado”, afirmou o professor Felipe Holanda, coordenador do trabalho, conduzido também pelo doutorando Evilarde Uchoa, do Serviço Geológico do Brasil. A descoberta contrasta com a ocorrência tradicional do metal, normalmente ligado a cobre e níquel em países como Congo e Indonésia, responsáveis por quase 90% da produção mundial.
A UFC estuda, em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), métodos para separar o cobalto do manganês. Caso a técnica se mostre viável, minas hoje subexploradas poderão ganhar nova rentabilidade.
O Ceará possui reservas confirmadas de mais de 900 mil toneladas de manganês, sendo 300 mil toneladas na mina Lagoa do Riacho, origem das amostras analisadas. Segundo Uchoa, o volume de cobalto ainda precisa ser definido por meio de sondagens detalhadas e análises químicas, etapa necessária para avaliar a viabilidade econômica do aproveitamento.
A área é operada pela Libra Ligas Brasil. O presidente da empresa, Cândido Quindere, informou que, a partir de janeiro de 2026, a jazida passará por um processo de caracterização de um ano para identificar outros minerais presentes, etapa decisiva para futuros investimentos.
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Embora possua a décima maior reserva do planeta, o Brasil não produz cobalto desde 2016, quando a Votorantim Metais encerrou a extração de níquel em Goiás. Hoje, o metal aparece como impureza nas operações de níquel da Anglo American em Goiás (recentemente vendidas a investidores chineses) e da Vale no Pará, sem comercialização direta.
Uma exceção pode surgir no Piauí: a britânica Brazilian Nickel planeja iniciar, no próximo ano, a construção de uma planta para processar níquel e cobalto, com 5% da produção destinada ao segundo metal. O projeto recebeu sinalização de apoio de US$ 550 milhões do governo dos Estados Unidos, equivalente a 40% do orçamento, e também é acompanhado pelo BNDES.
O refino global de cobalto permanece concentrado na China, ainda que o país reduza gradualmente o uso do metal em baterias. Na República Democrática do Congo, as maiores minas pertencem à Glencore (Europa), CMOC (China) e ENRC (Cazaquistão; enquanto na Indonésia, grupos chineses lideram a produção.
Dinah McLeod, diretora-geral do Instituto Cobalto, ressaltou que a maior parte da oferta segue para baterias de celulares, veículos e outros dispositivos, além de células de combustível e turbinas de aeronaves, como as dos caças F-16. McLeod declarou nunca ter observado cobalto associado ao manganês em escala economicamente viável, mas vê espaço para novos polos de produção fora da China e destacou o interesse de empresas brasileiras nesse processo.