O economista Bernardo Guimarães, doutor pela Universidade Yale e professor titular da FGV EESP, avaliou que a intervenção tardia do Banco Central no Banco Master ampliou o prejuízo financeiro da instituição e expôs fragilidades no sistema de supervisão bancária.
Segundo Guimarães, o principal acionista do Master contratou escritórios de advocacia que cobram centenas de milhões de reais e, no meio jurídico, esses profissionais são conhecidos pelas ligações com magistrados influentes. O economista afirma que a assimetria de poder entre a diretoria do banco e os servidores públicos contribuiu para retardar a liquidação.
Guimarães também menciona a relação do controlador do Master com figuras políticas. Ele cita como exemplo o projeto apresentado pelo senador Ciro Nogueira para ampliar substancialmente a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — proposta feita, segundo o economista, no momento em que a instituição mais precisava desse socorro.
De acordo com o professor da FGV, quando o Banco Central decide intervir ou liquidar uma instituição, seus diretores normalmente enfrentam processos judiciais. Com acesso a advogados “contratados a peso de ouro”, banqueiros costumam alegar erro técnico grave, abuso de poder ou violação do devido processo para contestar as decisões do regulador.
Para Guimarães, esse cenário cria incentivos para atrasar a intervenção, o que pode elevar o rombo financeiro. Ele defende mudanças que blindem diretores do Banco Central, ministros e secretários de Estado de ações judiciais intimidatórias, mantendo a responsabilização apenas em casos de dolo ou corrupção.
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O economista compara a situação brasileira com a de países desenvolvidos: após a crise de 2008, “inúmeros bancos regionais foram liquidados nos Estados Unidos, e nenhum diretor do Federal Reserve foi processado”, observa.
Parte das perdas do Banco Master será coberta pelo FGC, que assegura depósitos de até R$ 250 mil por cliente. Embora o fundo seja privado e financiado pelos próprios bancos, Guimarães sustenta que o prejuízo causado pelo Master evidencia a necessidade de instituições públicas capazes, simultaneamente, de punir atos de corrupção e proteger os reguladores.
Ele conclui que, em 2026 e nos anos seguintes, o Brasil precisará avançar em reformas institucionais para reduzir a influência política e econômica sobre as decisões de fiscalização bancária.