O Brasil mantém uma trajetória de endividamento considerada insustentável, sustentada por taxas de juros persistentemente elevadas, afirmou o economista-chefe e sócio da Vinland Capital, Aurélio Bicalho, em participação no programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo.
Bicalho lembrou que, mesmo nos anos 2000, quando a razão dívida/PIB recuava, os juros continuavam altos. Segundo ele, à época o Produto Interno Bruto (PIB) potencial crescia entre 2% e 3% ao ano, enquanto as despesas do governo avançavam cerca de 6% em termos reais. Esse descompasso teria comprimido o setor privado, tornando inevitável a manutenção de juros reais elevados.
O economista citou a experiência do teto de gastos, implementado no governo Michel Temer. Com o crescimento real das despesas próximo de zero e a substituição da TJLP pela TLP no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o país passou a se aproximar de padrões internacionais, descreveu.
Para Bicalho, o debate público foca no “sintoma” dos juros altos, mas ignora a origem: o desequilíbrio das contas públicas. Ele defende programas sociais “específicos e eficientes”, voltados à mobilidade social, evitando que o gasto estatal se converta apenas em estímulo ao consumo.
“Não existe gratuidade. Qualquer expansão de despesas precisa vir de algum lugar. O fiscal atual não gera crescimento; pelo contrário, atrapalha a economia a crescer”, declarou. De acordo com ele, políticas de estímulo abusivo ao gasto pressionam a demanda privada e levam o Banco Central a manter juros elevados para equilibrar a economia.
A análise histórica, acrescentou, mostra que o juro neutro brasileiro permanece alto em razão da expansão fiscal persistente e do crédito subsidiado adotado no passado.
Bicalho observou que fatores políticos também impactam a percepção de risco. O chamado “fator idiossincrático” — a popularidade do presidente à margem das condições macroeconômicas — teria perdido força. Hoje, segundo ele, a avaliação do governo se assemelha à de mandatários que não conseguiram reeleição ou eleger sucessores.
Dados regionais, como o histórico de Minas Gerais, apontam desaprovação superior à aprovação, sinalizando eleição mais difícil para o atual governo federal. Pesquisas segmentadas por escolaridade indicam maior desgaste entre eleitores com ensino médio, o que pode afetar o desempenho do PT, destacou.
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O economista afirmou que o mercado financeiro já começa a antecipar uma possível redução da Selic. Historicamente, lembrou, a Bolsa costuma subir cerca de três meses antes da virada do ciclo de cortes — movimento que ele já enxerga nos preços.
Fatores externos, como a perda de força do dólar e as expectativas sobre a política monetária do Federal Reserve (Fed), também podem favorecer os ativos brasileiros, avaliou.
Diante do cenário projetado, a Vinland ajustou posições em Notas do Tesouro Nacional série B (NTNBs) de prazo mais longo, moedas estrangeiras e estratégias de Bolsa, buscando capturar valorização com juros mais baixos e mudança na política econômica.
“Nosso foco é dar retorno ao cliente. Se estivermos certos, mantemos; se estivermos errados, mudamos rápido. Não há torcida, nem paixão, só análise rigorosa”, disse Bicalho.
Segundo ele, a gestora trabalha de forma diversificada, com estratégias em crédito, macro e ações, cada uma baseada em dados históricos e projeções. “Cada posição precisa ter explicação sólida, e todos acompanham rigorosamente se o cenário previsto está se concretizando”, completou.
Bicalho ressaltou ainda a prática de decisão coletiva na Vinland, pautada por estudo e evidência, e não por autoridade ou opinião pessoal.