O professor de economia Rodrigo Zeidan, da New York University Shanghai e da Fundação Dom Cabral, afirmou que o plano do governo brasileiro de liberar aproximadamente R$ 30 bilhões em linhas de crédito para empresas afetadas por tarifas norte-americanas representa uma transferência de recursos públicos para acionistas, sem garantia de manutenção de postos de trabalho.
Zeidan argumenta que, historicamente, políticas eficazes focam na proteção de pessoas e não de empregos. Ele cita o modelo de “flexicuridade” dinamarquês, baseado em três frentes: baixo custo para demissão, benefícios de desemprego generosos e programas obrigatórios de recolocação profissional. Segundo o economista, esse sistema contribuiu para que a Dinamarca registrasse taxa de desemprego de 2,5% em 2024 e não ultrapassasse 5,8% desde 2000.
No Brasil, o governo condiciona o acesso ao crédito à manutenção de vagas. Para Zeidan, a exigência é ineficaz, pois o país apresenta alta rotatividade de mão de obra — 14% dos trabalhadores trocam de emprego a cada cinco trimestres, de acordo com dados citados pelo professor.
Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) calcula que as tarifas impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump podem custar 146 mil empregos no Brasil em dois anos. Tomando esse cenário como base, Zeidan estima que o subsídio representará cerca de R$ 205 mil por vaga preservada. Se a perda real de postos for menor e empresas não impactadas acessarem o crédito, o custo por emprego poderia chegar a R$ 1 milhão, projeta o economista.
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O pacote inclui ainda postergação de pagamento de impostos, o que equivale, segundo Zeidan, a empréstimo com taxa zero em um contexto de Selic a 15% ao ano. Ele critica a destinação de recursos adicionais para iniciativas de “busca de novos mercados” por considerar que não haverá resultado prático.
Para o professor, programas que canalizam verba diretamente aos trabalhadores seriam mais eficientes e evitariam que grandes companhias, em melhores condições de acessar o crédito, se beneficiem primeiro. Ele conclui que subsídios dessa magnitude tendem a favorecer acionistas, enquanto pequenas empresas enfrentam dificuldades de caixa e podem receber o apoio tarde demais.