A corrida presidencial de 2026 já influencia o comportamento dos mercados, e a rejeição aos principais candidatos desponta como fator decisivo para o rumo dos ativos, avalia Ruy Alves, gestor da Kinea. Segundo ele, mesmo com desemprego baixo, crescimento moderado e inflação controlada, o presidente Lula não converte esses resultados em aprovação suficiente para garantir reeleição confortável.
Alves compara a posição do governo a “estar por trás das muralhas”, referência à Guerra de Troia, por controlar a máquina pública após cinco vitórias eleitorais – incluídas as de Dilma Rousseff. Do outro lado, a oposição avança “de baixo para cima”, ampliando presença em prefeituras, governos estaduais e na Câmara, com líderes jovens favoráveis à desburocratização e ao setor privado.
As perspectivas foram apresentadas no podcast Stock Pickers, durante o painel Onde Investir em 2026.
Nos Estados Unidos, a eleição legislativa de 2026 pode retirar do presidente Donald Trump o controle do Congresso, comprometendo sua capacidade de definir gastos públicos e tarifas. Para o gestor, a combinação de política fiscal mais frouxa com cortes de juros esperados para 2026 forma um cenário “inflamável”. Trump deverá escolher o novo presidente do Federal Reserve em maio daquele ano, o que, aliado a estímulos fiscais, reacende dúvidas sobre juros de longo prazo e abre espaço para setores fora da tecnologia.
Alves recomenda que investidores priorizem ativos com assimetria – maior potencial de ganho do que de perda – e observem tendências macroeconômicas difíceis de evitar.
No mercado doméstico, o gestor considera “praticamente certa” a continuidade da queda dos juros em 2025, puxada por inflação abaixo do esperado. “O Banco Central vai cortar juros; é consequência da inflação”, afirma.
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A incerteza sobre o próximo governo e o déficit fiscal projetado para 2027 motivam estratégias de proteção, como opções sobre o fundo que replica o índice brasileiro negociado no exterior. Esses derivativos, que incluem papéis de empresas listadas fora do país – caso do Nubank (ROXO34) –, são vistos como baratos e de risco limitado ao prêmio pago.
O gestor também aponta o real como aposta atrativa, sustentado pelo diferencial de juros a favor do Brasil.
Apesar de considerar a Bolsa brasileira barata, Alves destaca que o juro real de longo prazo, em torno de 7% acima da inflação, impede que ações disputem recursos com a renda fixa. “O juro longo brasileiro é tão absurdo que destrói o valor dos ativos”, diz. Para ele, apenas uma proposta fiscal sólida na eleição pode reduzir esse juro real e destravar o mercado acionário.
Por fim, o gestor observa a “ruptura silenciosa” na perda de correlação entre ouro e juro real nos EUA, sinal de mudanças estruturais no mercado mundial.