São Paulo – O governo dos Estados Unidos ampliou sua presença política, militar e econômica na América Latina e na Ásia em movimentos que pressionam diretamente o Palácio do Planalto.
Em 10 de outubro, Washington anunciou a criação da Força-Tarefa Conjunta no Comando Sul, sob liderança dos fuzileiros navais. A estrutura vai coordenar operações de inteligência, patrulha e ações internas contra o que a Casa Branca chama de “narcoterroristas” latino-americanos.
Uma esquadra encabeçada pelo mais poderoso porta-aviões americano foi destacada para o Caribe, região indicada como prioridade de defesa junto com o combate a imigrantes e traficantes considerados “inimigo interno”. A ofensiva deve incluir a interceptação de rotas de drogas e o desmonte de infraestrutura física e financeira de grupos criminosos, com expectativa de aumentar a pressão sobre o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela.
Ao mesmo tempo, a Casa Branca passou a exercer influência decisiva na política econômica da Argentina, governada por Javier Milei. Segundo interlocutores do Tesouro norte-americano, o país vizinho depende de recursos dos EUA para evitar colapso financeiro. Orientações sobre câmbio e ameaças de retaliação têm sido usadas como instrumento de negociação — intervenção considerada profunda, embora sem objetivo declarado além de sustentar um aliado de direita e afastar Buenos Aires da China.
Nesta mesma semana, Donald Trump visita Japão, Coreia do Sul e China. Em Tóquio, obteve a promessa de US$ 550 bilhões em investimentos. Em Seul, arrancou outro compromisso de US$ 350 bilhões. De Pequim, a meta é garantir fornecimento de terras raras e compras de aviões, soja e carne, em meio à crise dos produtores rurais americanos.
A União Europeia chegou a cogitar represálias comerciais às exigências de Trump, mas recuou diante da necessidade de apoio de Washington em seu confronto indireto com a Rússia.
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Diante desse tabuleiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que soma 50 anos de experiência em negociações, seis disputas presidenciais e três mandatos no Planalto — estuda como posicionar o Brasil. O país consolidou parceria comercial com a China, tornou-se exportador relevante de alimentos, petróleo, minérios e energia limpa, mas não dispõe de uma estratégia internacional de longo prazo.
Nos bastidores, assessores avaliam a possibilidade de o Brasil ser convidado a integrar a ofensiva antinarcotráfico. Interlocutores de Lula defendem plano objetivo para equilibrar relações com Washington e Pequim, evitar impactos sobre exportações e manter margem de manobra diplomática.
Até o fim do ano, o Itamaraty deve apresentar propostas sobre segurança regional, comércio e meio ambiente, em meio a um cenário descrito por diplomatas como o mais complexo para a política externa brasileira em duas décadas.