O próximo presidente do Brasil corre o risco de não completar nem o primeiro ano de governo caso não execute um ajuste fiscal logo no início do mandato em 2027, avalia Walter Maciel, CEO da gestora AZ Quest.
Em entrevista ao podcast Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo, o executivo afirmou que crises econômicas graves costumam precipitar impeachments, citando os casos de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Para ele, a responsabilidade fiscal é condição indispensável para a estabilidade política e para a retomada do crescimento.
Maciel classificou o quadro fiscal como “insustentável”. Segundo o gestor, a Constituição obriga o pagamento de salários do funcionalismo, aposentadorias, saúde e educação, consumindo praticamente todo o orçamento. A carga tributária, que já alcança 39% do PIB, é apontada por ele como um limite que não permite novos aumentos.
Comparando com outras nações, o executivo ressaltou que o Brasil arrecada mais, em termos per capita, do que Estados Unidos e Japão, mas não entrega infraestrutura ou qualidade de vida equivalentes.
Maciel criticou o que chama de “apropriação” de recursos públicos por setores privados e o crescimento de programas sociais e benefícios. Ele lembrou que subsídios e desonerações somam cerca de R$ 120 bilhões por ano, o equivalente a 7% do PIB. Na visão dele, reduzir um ponto percentual desse total liberaria cerca de R$ 60 bilhões para melhorar o resultado fiscal.
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O CEO da AZ Quest argumentou que a solução depende principalmente de credibilidade. Ele citou o governo Michel Temer como exemplo, quando o déficit caiu de 3,5% para 1,8% do PIB em dois anos sob a condução do então ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Para Maciel, um choque de confiança poderia fortalecer o real, reduzir a inflação esperada e abrir caminho para juros de um dígito.
Além do cenário interno, o gestor destacou a importância de o Brasil conservar sua tradição diplomática de diálogo com diferentes países. Manter boas relações externas, segundo ele, ajuda a evitar que pressões domésticas se transformem em problemas econômicos ainda maiores.
Maciel concluiu que, sem responsabilidade fiscal e sem um programa claro de ajuste, qualquer governo eleito em 2027 enfrentará dificuldades de governabilidade já no primeiro ano de mandato.