Fitch afirma que Brasil precisa reduzir dívida, não apenas estabilizá-la, para recuperar grau de investimento

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O Brasil ainda está distante de reconquistar o grau de investimento e precisa cortar o nível de endividamento, não apenas contê-lo, alertou Shelly Shetty, diretora de riscos soberanos para Ásia e Américas da Fitch Ratings, nesta terça-feira (9), durante visita semestral ao país.

Segundo a executiva, fatores como consolidação fiscal, confiança na trajetória de queda da dívida, crescimento econômico consistente e políticas que estimulem o investimento poderiam impulsionar a nota brasileira. Hoje, o país detém classificação BB, com perspectiva estável, dois degraus abaixo do selo de bom pagador perdido em 2015.

Prazo prolongado

Shetty lembrou que, em média, os países levam cerca de seis anos para recuperar o grau de investimento. No caso brasileiro, já se passaram dez anos e a melhora ainda “não está no horizonte de curto prazo”, disse. Em 2008, quando o país alcançou o grau de investimento, o Produto Interno Bruto (PIB) real cresceu 4,8%; para 2025, a Fitch projeta alta de apenas 2,5%.

Dívida em ascensão

A relação dívida/PIB era de 56% em 2008 e deve chegar a 79,3% no fim de 2025, de acordo com as estimativas da agência. Para estabilizar o passivo, Shetty calcula que o país precisaria gerar superávit primário de 2% a 3% do PIB, o que exigiria corte de gastos obrigatórios e aumento de receitas.

A diretora avalia que o governo deve cumprir a meta de déficit primário em 2025, mas cita desafios: projeções de crescimento menores que as previstas no Orçamento, receitas dependentes de votações no Congresso e o impacto do calendário eleitoral de 2026.

Comparação regional

No cenário latino-americano, o México mantém grau de investimento com nota BBB- graças à solidez fiscal. A dívida mexicana oscila entre 45% e 60% do PIB, contra quase 80% do Brasil. “O México apresenta perspectiva de estabilização da dívida quando seu crescimento retornar, enquanto o Brasil segue em trajetória ascendente”, afirmou.

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Imagem: redir.folha.com.br

Impactos externos e política monetária

Para Shetty, as tarifas dos Estados Unidos contra produtos brasileiros não devem afetar significativamente a economia nacional, já que as exportações para o mercado americano representam apenas 2% do PIB. Ela também destacou a capacidade do país de absorver choques, amparado por reservas internacionais elevadas e câmbio flutuante.

A respeito do Banco Central, a analista vê determinação em cumprir a meta de inflação, mesmo com a demanda interna resiliente. Nos 12 meses encerrados em agosto, o IPCA acumulou alta de 5,13%, acima do teto de 4,5%. Shetty defendeu a independência das autoridades monetárias e disse trabalhar com um cenário em que o Federal Reserve dos EUA permanece autônomo para ancorar a inflação, apesar das críticas do presidente Donald Trump.

A dirigente concluiu que o retorno do grau de investimento dependerá de ajustes fiscais concretos e de uma trajetória consistente de crescimento, fatores que, no momento, ainda não se materializaram.

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