O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia mundial perderá ritmo apenas de forma limitada em 2025 e 2026, apesar do aumento de incertezas macroeconômicas, das disputas tarifárias lideradas pelos Estados Unidos e do impacto inicial da inteligência artificial (IA). A avaliação consta do discurso de abertura da diretora-gerente Kristalina Georgieva e do mais recente Panorama Econômico Mundial, divulgados durante as reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, em Washington.
Segundo Georgieva, a resiliência do crescimento decorre de quatro elementos:
Tarifas menores que o esperado – A tarifa média ponderada dos EUA caiu de 23% em abril para 17,5% em outubro, após o anúncio inicial feito pelo presidente Donald Trump em 2 de abril de 2025. O nível ainda é alto, mas a retaliação internacional foi limitada.
Adaptabilidade do setor privado – Famílias e empresas anteciparam consumo e investimento para escapar de tarifas futuras. Atrasos na implementação e absorção parcial de custos por exportadores e importadores suavizaram a alta de preços, embora o repasse esteja em curso.
Condições financeiras favoráveis – Mercados acionários continuam valorizados, impulsionados principalmente pelo boom de investimentos em IA nos EUA. O FMI observa que ainda não é possível saber se se trata de avanço sustentado ou de bolha.
Fundamentos políticos mais sólidos – Diversas economias emergentes adotaram políticas fiscais e monetárias mais restritivas, após experiências de crises anteriores, o que ajuda a conter vulnerabilidades.
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O órgão multilateral alerta que déficits e dívidas elevadas seguem como ponto frágil. Nos EUA, a relação déficit/PIB deve piorar 0,5 ponto percentual em 2026, mesmo após ganho de cerca de 0,7 ponto do PIB com receitas tarifárias aprovadas na chamada “big beautiful bill”. Essa trajetória limita a possibilidade de reduzir desequilíbrios de conta-corrente e pode alimentar novas disputas, principalmente entre Washington e Pequim.
Em meio à escalada, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, acusou a China de prejudicar a economia global ao impor controles de exportação sobre terras raras e minerais críticos. Já China, Brasil e Índia estão entre os países atingidos pela tarifa de 50% aplicada pelos EUA. No caso brasileiro, o endurecimento tarifário coincide com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão.
O relatório destaca que as nações de renda mais baixa, especialmente as afetadas por conflitos prolongados, correm o risco de crescimento ainda menor. O corte em subsídios e em empréstimos concessionais agrava o cenário. O fechamento súbito da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) é apontado como fator relevante para a saúde pública: estudo publicado na The Lancet estima que a medida pode provocar mais de 14 milhões de mortes adicionais até 2030.
Criados em 1944 para promover a cooperação econômica, FMI e Banco Mundial defendem que o reforço desse princípio é essencial para manter o avanço social em meio à atual turbulência geopolítica.