A França intensificou as negociações com Washington para que champanhe, vinhos e destilados não sejam atingidos pela tarifa de 15% que os Estados Unidos devem aplicar à maior parte dos produtos europeus a partir de sexta-feira (1º).
O pedido francês ocorre após o acordo anunciado no domingo (27) entre a União Europeia e o presidente norte-americano, Donald Trump. O acerto, porém, deixou dúvidas em Bruxelas e Paris sobre quais mercadorias ficariam de fora da sobretaxa.
Enquanto representantes da UE afirmam que o diálogo continua, inclusive para bebidas alcoólicas, autoridades norte-americanas sustentam que não haverá exceções para vinhos nem destilados.
O ministro francês das Finanças, Éric Lombard, declarou ao jornal Libération nesta segunda-feira (28) que a isenção já garantida ao setor aeronáutico “deveria valer também para os destilados”. O vice-ministro do Comércio, Laurent Saint-Martin, disse acreditar que conhaque e outras bebidas desse segmento estão “de fato isentos”.
Nos bastidores, um funcionário do Ministério das Finanças confirmou que Paris tenta eliminar a tarifa para todas as bebidas alcoólicas. Um representante da Comissão Europeia avaliou que as conversas avançaram mais no caso dos destilados do que no dos vinhos.
A França é a maior exportadora de álcool do bloco: em 2024 vendeu € 12,1 bilhões (R$ 77,9 bilhões), sendo dois terços em vinhos e um terço em destilados, principalmente conhaque. Quase 30% desse volume teve os EUA como destino. A Itália, segunda maior exportadora da UE, apoiou o pleito francês; o país enviou € 6 bilhões (R$ 38,6 bilhões) em bebidas alcoólicas ao exterior no mesmo ano.
Empresas do setor de luxo acompanham de perto as negociações. O bilionário Bernard Arnault, dono do grupo LVMH, fez lobby junto à Casa Branca e à Comissão Europeia para proteger vinhos e destilados. Em artigo no Les Echos, ele alertou que a indefinição “expõe um setor emblemático da viticultura europeia a grande incerteza”.
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A LVMH controla a Moët Hennessy, líder global em conhaque e forte em marcas de champanhe como Veuve Clicquot. Rémy Cointreau, dependente das vendas de conhaque, e Pernod Ricard, que exporta champanhe e o uísque Jameson, também temem prejuízos.
Entidades do setor lembram que a ameaça de uma taxa de 200% feita por Trump em março já paralisou embarques por um mês. Ignacio Sánchez Recarte, secretário-geral da CEEV, afirmou que a tarifa extra de 10% imposta em abril derrubou o faturamento do segmento em 12% e desestimulou novos investimentos.
Detalhes finais do acordo UE-EUA devem constar de uma declaração conjunta prevista para sexta-feira, data em que Trump também pode assinar os decretos que formalizam as novas tarifas. Até lá, produtores de vinho e destilados aguardam definição que pode poupar ou onerar um dos principais mercados de destino.
Com informações de Folha de S.Paulo