O Palácio do Planalto decidiu postergar a análise sobre a Lei de Reciprocidade que pode impor retaliações comerciais aos Estados Unidos. A votação estava marcada para a última terça-feira (23) na reunião do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex), mas foi retirada da pauta a pedido do governo antes do início do encontro, às 10h30.
A mudança ocorreu no mesmo dia em que o ex-presidente norte-americano Donald Trump fez um aceno público ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas. O discurso de Trump começou cerca de uma hora depois do cancelamento da deliberação.
Integrantes do Executivo afirmam que a análise ficará suspensa por, ao menos, uma semana. O calendário poderá ser revisto caso se confirme uma conversa entre Lula e Trump, cogitada para a próxima semana por telefone ou videoconferência, segundo o chanceler Mauro Vieira. Lula, porém, não descartou um encontro presencial.
Em Nova York, Trump disse ter falado com Lula “por menos de um minuto” antes de discursar e relatou “excelente química” com o brasileiro. “Eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, declarou.
Antes da reunião do Gecex, havia disputa dentro do governo sobre o avanço do processo. Parte dos técnicos defendia levar adiante a retaliação, diante da dificuldade de negociar com Washington. Outro grupo temia novas sanções e preferia aguardar sinais da Casa Branca.
Fontes ouvidas avaliam que a disposição do governo norte-americano em negociar pode frear o uso da Lei de Reciprocidade; se os canais forem fechados, o tema tende a voltar ao eixo.
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No fim de agosto, a secretaria-executiva da Camex recebeu do Itamaraty pedido formal para iniciar medidas de reciprocidade contra as tarifas unilaterais aplicadas pelos EUA a produtos brasileiros.
Se admitido, o processo prevê a criação de um grupo de trabalho, consulta pública e decisão final do Conselho Estratégico da Camex. Para a reunião desta semana, estava pronto um relatório com impactos econômicos e avaliação sobre possível violação das regras internacionais de comércio, mas o documento não foi apreciado. O colegiado apenas tomou conhecimento do andamento dos estudos e dos prazos para as etapas seguintes.
Empresas brasileiras vêm atuando para aproximar os dois governos. Executivos da Embraer e da JBS incentivam a via negociada. Há cerca de três semanas, o empresário Joesley Batista esteve na Casa Branca e defendeu a revisão da sobretaxa de 50% imposta pelos EUA a bens brasileiros, argumentando que o impasse pode ser resolvido pelo diálogo.
Por enquanto, a Lei de Reciprocidade permanece em compasso de espera, enquanto Brasília observa os movimentos de Washington e aguarda o resultado do contato entre Lula e Trump.