O economista Bráulio Borges, mestre em teoria econômica pela FEA-USP e pesquisador associado do FGV IBRE, avalia que o governo do presidente Donald Trump mantém alto grau de imprevisibilidade ao usar tarifas de importação como ferramenta política, econômica e até pessoal.
Desde abril, quando a Casa Branca anunciou o chamado “Dia da Libertação”, os Estados Unidos elevaram a alíquota média ponderada de importação de menos de 4% para cerca de 18%, patamar mais alto desde a década de 1930, segundo o Budget Lab da Universidade Yale.
Logo após o anúncio, os mercados financeiros sofreram forte choque negativo. O recuo parcial de Trump, que adiou parte das tarifas, levou a uma recuperação dos preços de vários ativos, exceto do dólar, que continuou perdendo valor. Ainda assim, Borges afirma que os impactos reais sobre a economia norte-americana devem se intensificar nos próximos meses, conforme estoques de produtos não tarifados se esgotarem.
Estimativas do Budget Lab indicam que o tarifaço pode acrescentar cerca de dois pontos percentuais à inflação, o que praticamente dobraria o índice atual. O PIB dos EUA tende a encolher aproximadamente 0,5 ponto percentual em 2025 e quase 1 ponto em 2026. A análise distributiva sugere que as famílias de menor renda serão as mais afetadas.
Mesmo com a alta tarifária, a receita adicional estimada será inferior a US$ 200 bilhões por ano — cerca de 0,6% do PIB — valor insuficiente para compensar o déficit ampliado pelo “One Big Beautiful Bill Act”.
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Borges ressalta que não há garantia de estabilidade na nova alíquota média de 18%. Os acordos firmados pelos EUA com outros países são considerados frágeis diante da volatilidade do presidente e do uso recorrente das tarifas como arma negocial. A única possibilidade de reversão rápida, diz o economista, seria a justiça norte-americana barrar a base legal utilizada para impor as medidas.
Combinada à pressão que Trump exerce sobre a autonomia do Federal Reserve e à criação constante de factoides, a escalada tarifária tende a manter o ambiente internacional turvo até as eleições legislativas de 2026 nos Estados Unidos.
Com informações de Folha de S.Paulo